Ela
deita numa tela em branco. As cores, vem aos poucos. Com os dias, com os anos.
Com os sentimentos. Considera o branco a cor mais cruel de todas. Ameniza tudo,
clareia, dissolve. Talvez, no fim, branco não seja tão ruim assim... Se diverte
com a concepção popular de que branco é a cor que representa a paz. No meio do
som de uma Escola de Samba de cores, o branco seria a Rainha de bateria. Seria
o silêncio antes de todos entrarem na Avenida. A calmaria antes do Desfile. O
clarão das luzes refletidas no olho. Tudo branco, sempre. Para ela, no entanto,
branco não significa paz. Para Isaac Newton, branco é luz, e a reflexão de
todas as outras cores de seu círculo cromático. Uma mistura, um caos. E muitos
encontram no caos sua paz. Não pode julgar ninguém por fazê-lo, afinal, cada um
tem sua própria paleta de cores. Sua paz é azul, roxo, verde e amarela. Seus poemas
azuis sobre saudade, as paredes roxas de seu quarto, o verde da capa de seu
livro preferido e o amarelo do sol. Ela se depara com a paz em vários momentos
do seu dia, em várias coisas pequenas, quase tão insignificantes e
imperceptíveis, que passariam desapercebidas por algum leigo desavisado. Mas
não para ela. Não... Tudo o que quer é paz, sua
guerra é pela paz. Sorri. A paz sempre se mistura com um pouco de sono. Às
vezes cochila, outras vezes, só fica com os olhos fechados. Sua paz, por vezes,
é esquecer... Esquecer que somos instantes, e que a presença neste mundo nada
mais é do que algo temporário, ao mesmo tempo, extraordinário e corriqueiro.
Esquecer que, no fim, somos só desenhos pontuais na linha do tempo. Aparecemos
e desaparecemos com a mesma facilidade, com a mesma tranquilidade. No fim,
somos um monte de sentimentos misturados com um pouco de paz.
(espectros)
(telas em branco)
(luz)Arte: Flávia Duarte