terça-feira, 29 de novembro de 2016

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Ela deita numa tela em branco. As cores, vem aos poucos. Com os dias, com os anos. Com os sentimentos. Considera o branco a cor mais cruel de todas. Ameniza tudo, clareia, dissolve. Talvez, no fim, branco não seja tão ruim assim... Se diverte com a concepção popular de que branco é a cor que representa a paz. No meio do som de uma Escola de Samba de cores, o branco seria a Rainha de bateria. Seria o silêncio antes de todos entrarem na Avenida. A calmaria antes do Desfile. O clarão das luzes refletidas no olho. Tudo branco, sempre. Para ela, no entanto, branco não significa paz. Para Isaac Newton, branco é luz, e a reflexão de todas as outras cores de seu círculo cromático. Uma mistura, um caos. E muitos encontram no caos sua paz. Não pode julgar ninguém por fazê-lo, afinal, cada um tem sua própria paleta de cores. Sua paz é azul, roxo, verde e amarela. Seus poemas azuis sobre saudade, as paredes roxas de seu quarto, o verde da capa de seu livro preferido e o amarelo do sol. Ela se depara com a paz em vários momentos do seu dia, em várias coisas pequenas, quase tão insignificantes e imperceptíveis, que passariam desapercebidas por algum leigo desavisado. Mas não para ela. Não... Tudo o que quer é paz, sua guerra é pela paz. Sorri. A paz sempre se mistura com um pouco de sono. Às vezes cochila, outras vezes, só fica com os olhos fechados. Sua paz, por vezes, é esquecer... Esquecer que somos instantes, e que a presença neste mundo nada mais é do que algo temporário, ao mesmo tempo, extraordinário e corriqueiro. Esquecer que, no fim, somos só desenhos pontuais na linha do tempo. Aparecemos e desaparecemos com a mesma facilidade, com a mesma tranquilidade. No fim, somos um monte de sentimentos misturados com um pouco de paz.





(espectros)
(telas em branco)
(luz)



Arte: Flávia Duarte