domingo, 19 de maio de 2019

A Game of Thrones

Querida Game of Thrones,

Acabou, né? Depois de oito anos… Acabou. Lembro da primeira vez que vi a propaganda, um corvo de três olhos voando, também tinha fogo no meio. Fiquei hipnotizada e curiosa. Você me conquistou antes mesmo de seu primeiro episódio. Comprei o primeiro livro e o devorei em meio às aulas da faculdade, enquanto assistia aos episódios toda segunda, porque precisava esperar que o episódio saísse legendado para download. Falar sobre você era como um território inexplorado, porque poucas pessoas te assistiam, então, quando alguns amigos e conhecidos vinham me perguntar sobre, eu me esforçava para convencê-los de que você valia a pena e, quando eles começavam, eu sempre perguntava: “Quem é seu personagem preferido?” e a maioria das pessoas dizia: “Ned Stark.”, e eu ria, como se soubesse de um segredo muito importante, porque, bem… Todos nós sabemos o que aconteceu com Ned.

Na sua primeira temporada eu me choquei com a capacidade de um homem jogar uma criança que gostava de escalar do alto de uma torre; me estressei com Sansa, afinal, como ela podia ser tão boba e iludida? Mas eu também vibrei com Arya e seu professor de dança, treinando e lutando. E os lobos… Ah, como eu amava os lobos! Eu mesma queria ter um. Eu também queria ter um namoradinho como Robb Stark, até que ele… Perdeu a cabeça. Eu queria ter festejado com os Baratheon, até que eu percebi que os Martell devem dar festas mais legais. Eu me apaixonei perdidamente por Tyrion Lannister por sua inteligência e por sua fala de livros serem as espadas das mentes, algo assim. Eu queria tatuar isso no meu corpo. Me apaixonei também pela relação dele com Bronn. E também pela relação dele com Jaime, apesar de Jaime ser desprezível (mas não mais que seu filho-sobrinho Joffrey, convenhamos). Sobre Catelyn (Tully) Stark, eu tinha sentimentos divididos porque não gostava de como ela tratava Jon, apesar de entender seu lado. E aí eu vi Daenerys Targaryen. Uma menina que não sabia contar até vinte entrou no fogo depois de perder tudo o que tinha e sair dele com três dragões. Ainda estou digerindo seu fim e tentando entender como me sinto sobre isso. Mas o que Daenerys representa não é pouco. No fim, em sua última cena, eu olhava pra ela e via seu irmão, Viserys Targaryen que, inclusive, teve uma morte deliciosa de assistir: "Uma coroa para um Rei!".

Com o andar da carruagem, me deparei com Ser Barristan Selmy, Ser Jorah Mormont (que morreram por sua Rainha), Ser Davos (o maior sobrevivente da Batalha da Água Negra) e Meistre Aemon. Todos terão um lugar especial em meu coração, pela sabedoria e pela coragem. Depois conheci Oberyn Martell, que se tornou o meu preferido. Sua morte é a única que não consigo reassistir até hoje. Vi Sansa crescendo aos poucos, passando até por coisas que não estavam nos livros (que não vou mentir que detestei ter visto porque achei desnecessário) e a vi desabrochar numa Rainha justa e preocupada com seu povo, como ela nasceu para ser. Vi Arya conhecer Jaqen H’ghar e começar a olhar Gendry de outra forma, até que eles se separaram e ela continuou. Arya continuou e aprendeu. Se tornou uma das, quiçá a maior de todas, Faceless Men, a mulher mais letal de toda Westeros. Sempre que eu olhava para seu futuro não a queria morta, porque Arya é mais… É muito mais! E Westeros era pequeno demais para ela, afinal, ela já tinha matado o Rei da Noite... Eu amo tudo quanto à trajetória dela e ficaria devastada se eu visse isso jogado fora. Fiquei feliz por como elas terminaram.

Agora uma coisa que me deixou indecisa foi a explosão do septo: me pareceu um pouco lazy writing, como se quisessem se livrar de muitos personagens de uma vez só, e me doeu não ver Margaery como “A” Rainha, que ela tanto quis ser (acho que meu coração queria que todas tivessem sido rainhas). Mas por outro lado, eu achei genial ver Cersei como a estrategista que ela sempre foi. Uma mulher inteligente, ambiciosa e que faria qualquer coisa por seus filhos. Seu único defeito foi ter nascido mulher, né? Afinal, essas características vistas em homens é algo louvável. Mas Cersei não… Até que ela virou Rainha Regente e cometeu algumas coisas que realmente são imperdoáveis. Mas o seu fim… Eu esperava mais. Eu esperava tão mais! Eu esperava algo muito maior, tipo quando ela precisou andar nua pelas ruas de toda King’s Landing, humilhada e expondo sua “vergonha” a todos. Eu esperava um fim mais digno a uma das personagens mais consistentes dessa história.


E por falar no fim de Cersei… E o de Jaime, que eu tô esperando até agora que ele ia ser o irmão de Cersei a matá-la, como na profecia? Ele disse a Brienne: “Cersei é abominável. Eu também sou.”, e fiquei esperando que ele finalmente criasse a coragem para dar cabo da mulher que amava, mas não… Senti que todo o seu crescimento, toda a imagem de Regicida sem escrúpulos, o espectro que o acompanhou durante anos, todos os fantasmas de seu passado foram desperdiçados por um momento de puro egoísmo, de retornar ao Jaime do início da série para morrer com a mulher que amava. Ao menos finalmente Jaime pode descansar.

Eu sempre dizia às pessoas: “O que eu mais gosto dos personagens de Game of Thrones é que a maioria deles não é só boa ou só ruim. O bem e o mal dialoga dentro deles, e é isso o que eu amo na série.”, e Cersei era a imagem que me vinha à mente quando eu dizia isso. Littlefinger também, mas mais do que isso eu o achava um parasita ganancioso, e eu amei a forma como Arya o matou. Outro personagem ganancioso era Tywin Lannister, mas ah, como eu comemorei quando o vi morrendo enquanto cagava. Sinto vontade de rir até hoje. Quem entrou nessa lista de personagens dúbios foi Jon Snow, que finalmente (FINALMENTE!) descobriu quem foi sua mãe e agora vai precisar viver os seus dias sabendo que matou não apenas a mulher que amava mas, também, sua rainha, que jurou apoiar. Conhecendo seus traços e raízes Stark, acho que isso vai doer muito. Ele voltou pra onde eu acho seu coração ficou, com os selvagens, e eu gostei disso.

Inesperado mesmo foi ver quem viria a sentar no (não mais existente) trono de ferro. O que não me surpreendeu foi que o homem mais inteligente dos Sete Reinos fosse a Mão. Aquele Tyrion que, com dez minutos de fala, conseguiria ter colocado todo o Reino no bolso, só porque ele pode. Aquele Tyrion de quem senti falta por umas duas ou três temporadas. Aquele Tyrion que, se utilizando do discurso, convenceu uma corja inteira de nobres de quem deveria ser o rei. Ah, como foi bom poder ver essa parte dele antes do fim! Como foi delicioso ver o mesmo Tyrion que salvou a (INESQUECÍVEL E ÉPICA) Batalha da Água Negra, o mesmo Tyrion que, em seu julgamento por supostamente (obrigada Olenna Tyrell por isso) ter assassinado o crápula do Joffrey, fez o discurso mais arrepiante de que me lembro em toda a série! Obrigada por isso, Game of Thrones!

Obrigada, também, pelo fim de Sam Tarly (sinto que ele foi preparado para isso durante toda a série) e Brienne de Tarth (admito que parte de mim queria que ela ficasse com Tormund). Mas não agradecerei pelo reencontro do Cão de Caça com A Montanha, mas devo admitir que gostei de ver Arya dizendo “Sandor” pela primeira e última vez. Era uma relação que me deixava curiosa. Eu gostava de assistir. Eu também gostava de ver Olenna Tyrell, uma mulher incrível e inspiradora. Mas eu não gostei do que fizeram com o arco de Dorne depois da morte de Oberyn. A série poderia ter sido tão mais grandiosa se tivesse seguido os livros nesse arco… 

Fui seduzida pelo charme de Daario Naharis e tive o coração aquecido pelo amor que surgiu entre Missandei e Verme Cinzento. Chorei quando Missandei morreu de forma tão brutal, mas até agora sinto sua última palavra afundando dentro de mim. Como aquele "Dracarys" foi simbólico, né? Como aquela última mensagem de "Lembre que você veio aqui tomar tudo por fogo e sangue, então o faça por mim e por todas as correntes que você já quebrou." foi embutida em uma só palavra... E, não, não vou falar sobre os dragões porque dois deles mortos foi demais pro meu coração. 

Você me deu muitos personagens para amar, como Tormund, Arya, Tyrion e Oberyn, que eram meus preferidos. Me deu também alguns personagens que eu amei odiar, como Cersei, Theon Greyjoy (que finalmente conseguiu o reconhecimento com o qual tanto sonhou) Littlefinger e Varys (ainda estou triste por sua morte). E como nem tudo são flores, me deu personagens para odiar mais que tudo, como Ramsay Bolton e Walder Frey, duas mortes que eu nunca esquecerei. E por falar em morte e em Freys, e o Casamento Vermelho? Até hoje espero que a Lady Stoneheart apareça na série. Mas ao longo da série entendi que eu deveria me desprender de conceitos do livro, caso quisesse conseguir curtir o que me estava sendo oferecido.

Eu amei aquela última referência, do livro escrito intitulado "As Crônicas de Gelo e Fogo" mesmo que não tenham mencionado Tyrion, o que eu achei um absurdo! Mas gostei por ter dado um tom de veracidade à história. Fez sentir que ela realmente aconteceu... E quem me dirá e irá provar que não aconteceu, não é? Nunca vou esquecer a sua trilha sonora, sei que vou reconhecer “The Rains of Castamere” em qualquer lugar, nem vou esquecer a estética impecável dos últimos episódios dessa temporada. Mas o que eu nunca vou esquecer mesmo é o quanto você me fez sentir. Vivemos aventuras incríveis e inesquecíveis juntos. Obrigada por todos esses anos. Me despeço de você como quem se despede de um grande amor por quem ainda sinto um apreço sem igual (mas talvez não ame mais, a dúvida ainda paira em meu coração) e abro os braços para acolher os livros, se é que um dia serão publicados. Acho que, no fim, talvez estivesse todo mundo meio cansado, afinal, oito anos... Tem casamento que dura menos que isso.

Você foi memorável, apesar dos pesares.

(A única coisa que fico me perguntando até agora é: se Bran pode ver tudo, por que ele ainda não encontrou Drogon?)