domingo, 22 de junho de 2014

Copa de Ninguém

Ninguém o conhecia, nem ao menos sabiam seu nome... Nem mesmo ele. Era tão desconhecido, que costumava acreditar que seu nome era Ninguém, e seu apelido seria N. Era realmente a personificação do nada; um vazio em forma de pessoa. Quando tinha seus oito anos, conseguiu entrar no estádio que sediava um dos jogos da Copa do Mundo, de mãos dadas com um jogador de seu país. A Copa acontecia no país onde nascera e morava. Era muita sorte para um garotinho de oito anos de idade, apaixonado por futebol. Sentiu uma felicidade tão excruciante que imaginou que seu coração fosse explodir. Mais sorte ainda quando seu país venceu aquela Copa naquele ano, pela primeira vez, e ainda por cima, jogando em casa. N tinha certeza de que foi por sua causa, sua presença num dos jogos foi o amuleto da sorte para os jogadores que representavam seu país.

Depois disso, seu país nunca mais venceu uma Copa do Mundo.
Depois disso, N nunca mais sentiu essa felicidade de achar que o coração poderia explodir dentro de si.

O fato de que seu país nunca mais conseguiu ao menos chegar às finais da Copa do Mundo apenas aumentou sua certeza de que foi N quem deu sorte aos jogadores naquela fatídica Copa, dos seus oito anos de idade. Ninguém o conhecia, mas ainda assim, N tinha feito com que seu país vencesse a Copa do Mundo!

Anos depois, lá estava N assistindo ao jogo da final da Copa... Por uma ironia, ou talvez presente do destino, estava no mesmo estádio onde havia entrado segurando a mão de um jogador de seu país. A seleção de seu país conseguiu chegar à final pela primeira vez desde aquela Copa. Aos 42 minutos do segundo tempo, o astro da seleção fez o gol decisivo, que garantiu a Taça da Copa para seu país.


Para N, foi como voltar no tempo: por um momento, ele voltou a ser aquele menininho de oito anos de idade, igualmente feliz e orgulhoso... A felicidade excruciante voltou e, mais uma vez, se foi. Acreditou que seu time ganhou pelo mesmo motivo que ganhou pela primeira vez anos atrás: sua presença. Comemorou, e ao final de tudo, deixou o estádio e voltou para casa. Tomou um banho, colocou seu pijama, deitou na cama e fechou os olhos para dormir. Sentiu-se na presença de anjos, adormeceu e nunca mais acordou. Continuou desconhecido por todos, Ninguém sabia seu nome.