Ninguém o conhecia, nem ao menos sabiam seu nome... Nem
mesmo ele. Era tão desconhecido, que costumava acreditar que seu nome era
Ninguém, e seu apelido seria N. Era realmente a personificação do nada; um
vazio em forma de pessoa. Quando tinha seus oito anos, conseguiu entrar no
estádio que sediava um dos jogos da Copa do Mundo, de mãos dadas com um jogador
de seu país. A Copa acontecia no país onde nascera e morava. Era muita sorte
para um garotinho de oito anos de idade, apaixonado por futebol. Sentiu uma
felicidade tão excruciante que imaginou que seu coração fosse explodir. Mais
sorte ainda quando seu país venceu aquela Copa naquele ano, pela primeira vez,
e ainda por cima, jogando em casa. N tinha certeza de que foi por sua causa,
sua presença num dos jogos foi o amuleto da sorte para os jogadores que
representavam seu país.
Depois disso, seu país nunca mais venceu uma Copa do Mundo.
Depois disso, N nunca mais sentiu essa felicidade de achar
que o coração poderia explodir dentro de si.
O fato de que seu país nunca mais conseguiu ao menos chegar
às finais da Copa do Mundo apenas aumentou sua certeza de que foi N quem deu
sorte aos jogadores naquela fatídica Copa, dos seus oito anos de idade. Ninguém
o conhecia, mas ainda assim, N tinha feito com que seu país vencesse a Copa do
Mundo!
Anos depois, lá estava N assistindo ao jogo da final da
Copa... Por uma ironia, ou talvez presente do destino, estava no mesmo estádio
onde havia entrado segurando a mão de um jogador de seu país. A seleção de seu
país conseguiu chegar à final pela primeira vez desde aquela Copa. Aos 42
minutos do segundo tempo, o astro da seleção fez o gol decisivo, que garantiu a
Taça da Copa para seu país.
Para N, foi como voltar no tempo: por um momento, ele voltou
a ser aquele menininho de oito anos de idade, igualmente feliz e orgulhoso... A
felicidade excruciante voltou e, mais uma vez, se foi. Acreditou que seu time
ganhou pelo mesmo motivo que ganhou pela primeira vez anos atrás: sua presença.
Comemorou, e ao final de tudo, deixou o estádio e voltou para casa. Tomou um
banho, colocou seu pijama, deitou na cama e fechou os olhos para dormir.
Sentiu-se na presença de anjos, adormeceu e nunca mais acordou. Continuou
desconhecido por todos, Ninguém sabia seu nome.