quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sagrado fogo sagrado



































"Da lama ao caos, do caos à lama..."
Do pó ao pó, das cinzas às cinzas.
Nesse meio tempo, do fogo
Renasço e cresço, queimo.
Sou fogo, do fogo,
Sentada nos restos de fogo,
Enterrada nas frias cinzas de uma fogueira apagada,
Agradeço aos meus protetores azuis,
Que dançam a meu redor,
Enquanto sou rodeada por várias luzes.
Vermelho, laranja e amarelo, cores de fogo.
Viro fogo, que queima forte e intenso.
“Abrace a fofura dentro de você.”, diz minha Mãe,
Reprovando a menina que cresceu com referenciais masculinos,
Queimo para desconstruir as amarras da doutrina
De que só se é forte quando se é rígido, ríspido, masculino!
Deixo queimar o medo do bobo da corte,
De ser o bobo da corte,
E danço diante da minha natureza doce, como se ninguém estivesse vendo.

“E SE VIREM, QUE FALEM! QUE TE VEJAM COMO LOUCA, COMO ESTRANHA,
ELES NÃO MUDAM EM NADA NA SUA VIDA, MESMO, LEMBRA?
PRA QUÊ TENTAR CABER NUMA FORMA QUE NÃO TE CABE, HEIN? LEMBRE DE QUEM VOCÊ É E NUNCA QUEIRA MENOS, QUEIRA SEMPRE MAIS, MAIS E MAIS!”
Ouço os gritos da minha consciência, como se ela fosse uma bêbada.
Com um cigarro na mão, não se contenta em ficar calada.
É sarcástica e indignada, porém cuida de mim:
“VOCÊ PRECISA SER MAIS GENTIL CONSIGO MESMA, PRA QUÊ SER TÃO DURA ASSIM? VIRASSE MADRE TERESA DE CALCUTÁ AGORA? LEIA AÍ ESSA CARTA DE NOVO PRA VER SE VOCÊ ENTENDE DE UMA VEZ POR TODAS E PÁRA DE SE MARTIRIZAR POR COISAS FORA DO SEU ALCANCE, PRA VER SE VOCÊ ENTENDE QUE NÃO É OBRIGADA A NUNCA ERRAR, APRENDA COM SEUS ERROS SEM SOFRER EU FALO, FALO, FALO E VOCÊ NÃO APRENDE DEIXE DE TEIMOSIA!!!”, e pára alguns segundos pra limpar as cinzas que caíram em cima da mesa.
“VOCÊ QUER DANÇAR? DANCE! VOCÊ QUER AMAR UMA PESSOA, DIZER QUE GOSTA? VÁ LÁ E DIGA! RESISTA!”, e acalma a voz: “Abrace a vanguarda que você é e transborde amor e fofura sempre. Isso é quem você é. Se solte mais, deixe que te vejam mais! Lembre: ‘Gentle is nothing but revolutionary’.”

Ali, enterrada nas cinzas, segurando aquela brasa que não mais é,
Sou vista pela minha irmãzinha como uma palhaça, uma bruxa, uma fogueira
TUDO EM UMA LUMA SÓ!
Multifacetada.
Abraço minha luz e faço do amor minha resistência em tempos de tanto ódio,
E faço meu próprio voto de protesto: “Não vou mais espalhar nada que seja ruim, apenas o bem e o amor.”
ME RECUSO!!!!
Sou vanguarda, quando deveria ser só mais uma pessoa comum.
Mas acolho cada vez mais quem sou, por amor a mim mesma.
Amor próprio não é a base sólida de um prédio, um orgulho prepotente,
Amor próprio é movimento, e entender que sempre posso melhorar e crescer,
Amor próprio é abraçar quem sou e me amar nesse processo,
Ao mesmo tempo em que entendo que posso ser mais, mais e MAIS!
SEMPRE!

A vida é o movimento da minha fogueira,
Ayahuasca é o raio divino e sagrado que atinge a minha Torre
(de alicerce fraco)
(abraço minha mudança em meu crescimento com uma animação infantil
como aquela criança cujos olhos brilham ao ver algo incrível pela primeira vez,
abraço e acolho a criança dentro de mim,
a protegerei de tudo e de todos com tudo o que carrego comigo)
E eu sou o fogo que se transmuta a cada dia.
Brilho, danço e aqueço.
E espero que cada vez mais,
Sempre mais.