"Da lama ao caos, do caos à lama..."
Do pó ao pó, das cinzas às cinzas.
Nesse meio tempo, do fogo
Renasço
e cresço, queimo.
Sou
fogo, do fogo,
Sentada
nos restos de fogo,
Enterrada
nas frias cinzas de uma fogueira apagada,
Agradeço
aos meus protetores azuis,
Que
dançam a meu redor,
Enquanto sou rodeada por várias luzes.
Vermelho, laranja e amarelo, cores de fogo.
Viro
fogo, que queima forte e intenso.
“Abrace
a fofura dentro de você.”, diz minha Mãe,
Reprovando
a menina que cresceu com referenciais masculinos,
Queimo
para desconstruir as amarras da doutrina
De
que só se é forte quando se é rígido, ríspido, masculino!
Deixo
queimar o medo do bobo da corte,
De
ser o bobo da corte,
E
danço diante da minha natureza doce, como se ninguém estivesse
vendo.
“E
SE VIREM, QUE FALEM! QUE TE VEJAM COMO LOUCA, COMO ESTRANHA,
ELES
NÃO MUDAM EM NADA NA SUA VIDA, MESMO, LEMBRA?
PRA
QUÊ TENTAR CABER NUMA FORMA QUE NÃO TE CABE, HEIN? LEMBRE DE QUEM
VOCÊ É E NUNCA QUEIRA MENOS, QUEIRA SEMPRE MAIS, MAIS E MAIS!”
Ouço
os gritos da minha consciência, como se ela fosse uma bêbada.
Com
um cigarro na mão, não se contenta em ficar calada.
É
sarcástica e indignada, porém cuida de mim:
“VOCÊ
PRECISA SER MAIS GENTIL CONSIGO MESMA, PRA QUÊ SER TÃO DURA ASSIM?
VIRASSE MADRE TERESA DE CALCUTÁ AGORA? LEIA AÍ ESSA CARTA DE NOVO
PRA VER SE VOCÊ ENTENDE DE UMA VEZ POR TODAS E PÁRA DE SE
MARTIRIZAR POR COISAS FORA DO SEU ALCANCE, PRA VER SE VOCÊ ENTENDE
QUE NÃO É OBRIGADA A NUNCA ERRAR, APRENDA COM SEUS ERROS SEM SOFRER
EU FALO, FALO, FALO E VOCÊ NÃO APRENDE DEIXE DE TEIMOSIA!!!”, e
pára alguns segundos pra limpar as cinzas que caíram em cima da
mesa.
“VOCÊ
QUER DANÇAR? DANCE! VOCÊ QUER AMAR UMA PESSOA, DIZER QUE GOSTA? VÁ
LÁ E DIGA! RESISTA!”, e acalma a voz: “Abrace a vanguarda que
você é e transborde amor e fofura sempre. Isso é quem você é. Se
solte mais, deixe que te vejam mais! Lembre: ‘Gentle is nothing but revolutionary’.”
Sou
vista pela minha irmãzinha como uma palhaça, uma bruxa, uma
fogueira
TUDO
EM UMA LUMA SÓ!
Multifacetada.
Abraço
minha luz e faço do amor minha resistência em tempos de tanto ódio,
E
faço meu próprio voto de protesto: “Não vou mais espalhar nada
que seja ruim, apenas o bem e o amor.”
ME
RECUSO!!!!
Sou
vanguarda, quando deveria ser só mais uma pessoa comum.
Mas
acolho cada vez mais quem sou, por amor a mim mesma.
Amor
próprio não é a base sólida de um prédio, um orgulho prepotente,
Amor
próprio é movimento, e entender que sempre posso melhorar e
crescer,
Amor
próprio é abraçar quem sou e me amar nesse processo,
Ao
mesmo tempo em que entendo que posso ser mais, mais e MAIS!
SEMPRE!
A
vida é o movimento da minha fogueira,
Ayahuasca
é o raio divino e sagrado que atinge a minha Torre
(de
alicerce fraco)
como
aquela criança cujos olhos brilham ao ver algo incrível pela
primeira vez,
abraço
e acolho a criança dentro de mim,
a
protegerei de tudo e de todos com tudo o que carrego comigo)
E eu
sou o fogo que se transmuta a cada dia.
Brilho,
danço e aqueço.
E
espero que cada vez mais,
Sempre
mais.