terça-feira, 7 de junho de 2016

Semana dos Namorados #2

Era um dia bonito, e queria fugir. Queria fugir de tantas coisas, de tantas decisões que precisava tomar, de tantas pessoas, de tantos sentimentos... Parecia que ultimamente só tinha feito isso, fugir. Estava com medo. Dessa vez, no entanto, se permitiu fugir um pouco. Foi para o parque da cidade, onde ficou ouvindo os pássaros cantando no fim da tarde, observava alguns casais de namorados e algumas pessoas caminhando. Precisava disso, precisava de um tempo só, precisava não pensar demais. Precisava conseguir dedicar-se a si, ainda que por pouco tempo. Precisava se esconder.

A fuga, no entanto, durou pouco. Logo sentou a seu lado um rapaz com barba e roupa branca, devia ter uns 25 anos, analisou. Ficaram um tempo em silêncio analisando a paisagem, até que o novo companheiro quebrou o gelo, escorregando uma flor arrancada de um canteiro qualquer:
“Isso é para mim?”
“Sim.”
“Por que?”
“Porque sim.”
“Não se dá uma flor para um desconhecido sem ter um motivo.”
“Talvez você precise de algo para melhorar o seu dia.”
“E não precisamos todos?”, suspirou.
“O que aconteceu com você?”
“A vida aconteceu comigo.”
“A vida acontece com todos nós.”
“Pois é.”
“A vida acontece com todos nós e a gente enlouquece um pouco.”
“Enlouquece?”
“É, de amor.”
“Você é louco de amor?”
“Eu sou louco de amor.”
“Mas ninguém é louco de amor.”
“Eu sou louco de amor. Fiquei louco há muito tempo.”
“E valeu a pena?”
“As coisas que nos tiram da zona de conforto são as que mais valem a pena.”
“Mas você não teve medo?”
“O tempo todo.”
“E ainda assim enlouqueceu de amor?”
“E ainda assim enlouqueci de amor.”
“Como?”
“Eu poderia ser corajoso ou poderia ser covarde. E ser covarde é algo que não dá para mim.”
“Por que?”
“Porque aí eu seria igual a todo mundo, e ninguém me amaria de volta. E eu tenho uma necessidade de ser amado... Quero que me amem, e quero amar de volta.”
“Mas amar é assustador.”
“Claro que amar é assustador! Significa que você dá a outra pessoa o poder de partir seu coração, enquanto você tem o dever de cuidar do coração da outra pessoa. É uma responsabilidade muito grande, e muitos de nós não sabem como lidar com ela.”
“Mas eu devo?”
“Amar?”
“Sim.”
“Deve amar com todas as forças que existem em seu ser.”
“E se eu acabar de coração partido?”
“Você se reconstrói e parte para outra.”
“Mas não vai doer?”
“Vai, e muito.”
“Então, qual é o sentido disso?”
“O AMOR!”, disse, levantando e abrindo os braços, como se aquele fosse seu palco.
“Mas vai doer.”
“O amor dói, mas vai te fazer sorrir, e vai te trazer ótimas lembranças... O amor vai te trazer poesia, e ninguém vive sem poesia.”
“Eu vivi até hoje sem amor e sem poesia.”
“Então você não viveu.”

Conversaram mais alguns minutos, era um poeta. Enlouqueceu de amor.

Ao fim da conversa, saíram do parque juntos e caminharam por alguns metros, até que pararam na frente de um hospital psiquiátrico.
“É aqui que eu fico.”, disse o poeta.
“Você realmente enlouqueceu?”
“Enlouqueci de amor.”

Despediu-se e foi levado pelos enfermeiros do hospital para sua ala. Antes de sair do campo de visão, viu o poeta dizer “Viva!”. Outro enfermeiro veio agradecer por ter retornado o paciente ao hospital, passaram a tarde toda procurando por ele.

Saiu do hospital, olhou a flor que recebeu. A flor lhe dizia para viver.


(e amar)