quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O porquê de eu ter ido embora para não mais voltar e como me percebi quando me livrei da culpa de ter partido

Desde o dia quando me permiti
Ir embora de você,
Desde a última vez que eu o vi me expulsar
De sua vida, como se eu nada fosse,
Quando disse a mim mesma
"Não volte, você já fez demais."
Quando me veio a epífania de que
Não importa o quanto eu o ame,
Eu nunca poderei me destruir tentando salvá-lo
(ora, esse papel de ser seu salvador pertence apenas a ele mesmo)
Vivi meus dias com um sentimento de culpa:
Talvez eu pudesse fazer mais, ajudar mais,
Afinal, a gente não diz que ama e vai embora 
Quando a gente ama, a gente não abandona
Depois que conhecemos as partes mais sombrias do coração do outro.
A gente fica e dá a mão.
Ajuda a se tornar melhor, a ser melhor.
A ficar mais feliz.
Mas às vezes a gente não tem escolha, e precisamos partir.
(ao barquinho de papel dele, 
ela ofereceu o mar de fogo de seu cabelo ruivo cacheado
e os jardins de girassóis de seu coração
mas foi coisa demais para o barquinho de papel dele
parece que pegou fogo, até virar cinzas)
E ele me mandou partir. Então, fui embora.
Fiz minhas malas, juntei minhas roupas,
Minhas fotografias, minhas poesias, meus livros.
Meu fogo, minha risada até chorar
Peguei minhas correntes, minhas amarras e seguranças e parti.
Lembro de uma querida pessoa dizendo:
"Eu não acho que quem ama volta, porque quem ama 
não vai embora, portanto não precisa voltar."
Mais uma vez, me senti culpada.
Mais uma vez, repeti para mim mesma
Que não posso fazer morada num coração que não me quer.
Sou grande demais para caber na gavetinha dele.
Todo dia,
                t o d o   d i a
Me obrigava a dar mais um passo na direção contrária dele.
Porque a verdade é que 
A gente só ama quem quer ser amado,
A gente só fica com quem quer ficar com a gente,
A gente só ajuda quem quer ser ajudado.
E a verdade é que ninguém aprisiona o fogo,
Nem consegue manipulá-lo demais.
E ou você queima junto comigo, ou não passa de um espectador.
Talvez uma lupa, que enalteça mais ainda o fogo.
Mas o fogo não precisa da lupa, porque já estava aceso.
E você não pode acorrentar o fogo.
E hoje, depois de um mês,
Depois de ter passado pela dor da perda,
Pela raiva acompanhada da vontade
De lavar meu corpo com água sanitária 
E esfregá-lo com palha de aço,
Só para ter certeza de que não resta 
Em lugar algum dessa pele vestígio do seu toque,
Me libertei.
Me libertei, sentindo as correntes que este sentimento impuseram a mim
Não aguentarem o peso da relação natimorta
Nem dos sentimentos do luto
E arrebentarem.
Dentro de mim, as correntes não resistiram ao fogo.
E deixei o que sentia por ele de lado,
E foquei no que eu sinto por mim mesma.
Desde que acabou, me perguntei
Qual era o papel dele em minha vida,
Até que eu descobri:
Me lembrar que a coisa mais importante que eu tenho
É o amor que eu sinto por mim mesma.
E o que eu faço para colocar esse amor em prática.
Pois bem: fui sincera com meus sentimentos e 
Fiz o que acreditava que devia fazer.
Partir foi uma dessas coisas.
O papel dele na minha vida foi
Me fazer perceber que não sou tão vilã quanto gosto de mostrar que sou
E que por trás dessa máscara,
Existe uma pessoa linda e sensível
Que cuida de quem ama e
Não mede esforços para fazê-los feliz.
Analisando tudo o que fiz por ele,
Quando ele dizia que eu não tinha amor próprio,
Percebo, hoje, que eu nunca agi com tanto amor próprio
Quanto com ele.
Analisando tudo o que fiz por ele,
Fico feliz em perceber quem eu sou.
E se ele me disse para não voltar mais...
Paciência!
Chega dessa dança de egos
Que me impede de seguir em frente.
E no fim das contas, ainda que não exista um vencedor
Quando se acaba uma relação,
Eu sei que venci, que ganhei... Amadureci.
E senti não só que eu me amo,
Mas principalmente, me senti apaixonada por mim mesma.

(quebrei minha corrente que me ligava a ele
tão rápido, tão súbito que pude ver
por trás de meus olhos a corrente em meu peito
se expandindo até quebrar,
ainda sinto a respiração aliviada deste momento,
a leveza da liberdade 
e agora danço ao som dos Rolling Stones)