domingo, 18 de março de 2018

O tempo, ou a tempo.


Antes, só havia ele. Ou ela, como preferir.
Antes, só havia o laranja do pôr do sol do Tempo.
A realidade é que Tempo não se define
Não é homem, nem mulher.
Nem é mensurável,
Nem é uma carta de tarot chamada “O Eremita”.
Tempo é mais, muito mais.
Tempo é tudo quando nada existia.
Tempo é infinito, não tem idade.
Tempo está presente desde antes do início,
E permanecerá depois que tudo se esvair.

E então, numa época em que todos eram eternos,
Tempo se apaixonou pelo astronauta de cabelo preto.
Tempo agora ama Heggbert,
Ser tridimensional, astronauta e, principalmente,
amante do tempo.
Heggbert ama tempo desde sempre,
Este amor está intrínseco a seu ser,
Desde menino novo:
“Quero ser astronauta e estudar o tempo.”, dizia sempre.
Mas esta versão de amor permaneceu no plano das ideias:
Tempo não pode tocar, nem dizer que o ama de volta.
Ciclo.
Tempo é laranja,
Heggbert vive no azul.
Tempo quer mais, precisa de mais.
Contato, carinho, conforto, amor.
Tempo quer ser e estar junto.
Qual o preço que tempo estaria disposta a pagar
Por um simples toque?
“Mas esse amor é impossível!”, reflete Tempo.
Continuar com isso faria Tempo consumir Heggbert por completo
IN-TEI-RI-NHO!!!
E a Heggbert, nada restaria, além de
Desgastar seu próprio amor.
Às vezes o amor é uma melancolia muito bela.
Ou talvez, o amor é a beleza dentro da melancolia.
Assim, Tempo preferiu se sacrificar.
Se afastaria de Heggbert
MAS TEMPO É ONIPRESENTE!!!!
Mesmo contra sua vontade, Tempo se via sempre
Atraída para Heggbert, como uma âncora
(ou um ímã)

Mas o amor sempre encontra uma saída
E eis que surge uma chance:
Tempo abandona seu laranja outonal
E se materializa em Phi,
A fada rosa com asas de ampulheta.
Heggbert agora é o astronauta que dança com fadas.

Ainda assim, não era suficiente.
Então, tomado pelo desejo,
Amaldiçoada por seu egoísmo,
Tempo cria a Vida e a Morte.
Retira de Heggbert sua infinitude e o transforma em mortal.
A Vida e a Morte são, agora,
Pais e Mães de tudo e todos.
(seres superiores não tem amarras aos gêneros)
Todos nascem, crescem, criam vida,
(às vezes causam mortes)
E morrem.

Morte é branca
(como os lençóis na cama daqueles amantes)
E usa sempre o mesmo vestido longo,
Tão preto que dá para achar que ele engolirá tudo o que existe.
Vida é negra, de um negro tão bonito,
(sua pele reluz, parece veludo!)
E usa um vestido curto tão branco quanto a pele da própria Morte.
Nas idas e vindas da Vida,
Ela e Morte se descobrem conectadas,
Uma complementa e justifica a existência da outra,
Uma cuidadosamente feita para a outra.
Se apaixonam ardentemente, claro.
Tragicamente, descobrem que não podem ficar juntas.
Então, num acordo secreto, combinam:
Cada ser finito que nasce é um presente da Vida
Carinhosa e cuidadosamente enviado à Morte.
Mas amor não é telefone sem fio,
Nem uma ligação perigosa de apenas uma via.
Requer reciprocidade.
Como presente de bênção desse amor,
O padrinho tempo cria a reencarnação,
Para que a Morte retorne à Vida seus presentes.
Mútuo e recíproco.
(a palavra “reciprocidade” é linda, né?)

Assim, Heggbert é não só o amor de Tempo,
Agora é objeto passível de ida e Morte,
Uma ponte que faz conectar este amor.
Agora, restava a tempo se despedir da necessidade de se expressar.
Phi precisava dizer a Heggbert que o ama.
Precisava fazê-lo sentir.
Por isso, Phi cria todas as coisas que ele ama.
Assim, Phi, sempre perto, faz o tempo parar
No mundo azul de Heggbert
Quando ele faz algo que ama.
(por isso, dizem que quando nos apaixonamos,
quando vemos quem amamos o tempo pára,
é o presente de Phi para nós)
Mas no fim de cada ciclo,
Ao ver Heggbert sendo carinhosamente abraçado pela Morte,
Phi chora.
Afinal de contas, quer rever e redescobrir o astronauta finito
De belos cabelos pretos
Quer amar e ser amada novamente,
De novo e de novo,
Afinal, não há tempo a perder!
E por várias infinitas reencarnações,
Em todos os momentos e épocas criados por Tempo,
Heggbert e Tempo se encontram,
E o tempo pára mais uma vez.
                             E outra.
                                                              E outra.
                                                                                                  E outra.
                                                                                                                                                    (sentiu?)

Heggbert já teve muitos nomes:
Heggbert, José Victor, Doctor, Emmett Brown e Tiago são alguns.
Muitos outros nomes ainda virão, ou já foram.
Heggbert e Phi se encontram e se amam
Várias vezes, no emaranhado de momentos do Tempo.
Mas a eles nada mais importa além
Da segurança por trás da certeza do reencontro.
Tempo permanecerá amando-o e sendo amada,
Os dois presos em seu eterno ciclo de amor:
Phi fará o tempo parar para ele,
E Heggbert continuará estudando, até que chegue a Tempo.

Isso porque o amor, em todas as suas formas,
É a mais forte e mais importante força do Universo
É o Amor que torna o impossível em possível.
Ele é nosso criador, nossa essência e necessidade.
E hoje, neste momento curto, finito, efêmero,
Brindam Tempo e Heggbert em todas as suas versões,
Num momento imensurável pelas medidas conhecidas pelo homem,
Eterna e ciclicamente,
“Ao amor, em todas as suas formas.”.