E aí que você acha que tá ficando "doido".
Não, você tem certeza!
Mas aí, você pára e lembra daquele artigo publicado naquela revista
Meio sensasionalista
Que você leu há muitos anos...
Tantos anos que você nem lembra quem era
(mas você ao menos já soube quem é?)
Algo sobre ninguém ser mais "normal" hoje em dia...
Parece até aquela conversa meio "fake news" de grupo de família, né...
Mas, bem, foi o que disse a revista,
Disso você lembra... Não lembra?
O que diria a psicanálise de tudo isso?

Somos paranóicos, depressivos, ansiosos, esquizofrênicos, adictos...
Somos loucos!
Somos humanos complexos...
SOMOS HUMANOS COMPLEXOS
QUE USAM SEUS COMPLEXOS
PARA MACHUCAR UNS AOS OUTROS
A NÓS MESMOS
(respira fundo)
E espiralando em delírio, segue...

Lava o rosto... Respira!
Enxuga o rosto, sente os pelinhos da toalha,
Se olha no espelho
(NÃO SE RECONHECE!!!)
E tem certeza: enlouqueci!
Completamente lelé da cuca!!!
E mais: todo mundo sabe!
Bem... Todo mundo, menos eu.
Eu, que me agarro àquela pontinha de esperança,
Àquele fio quase rompido de resto de sanidade,
De ainda ser seu,
De ainda ser normal!
MAS O QUE É NORMAL?
POR QUE VALORIZAM TANTO O "NORMAL"???

E me perco,
Me busco, me acho,
Nos cantos mais improváveis,
Nos hábitos mais desprezíveis,
Na suja natureza do meu âmago sagrado.

Cato cada pedaço de mim
(medite!)
Recolho as peças do meu quebra-cabeças,
Me destruo para me reconstruir,
Nessa busca incessante pelos fósseis de minhas falas,
De meus cantos, meus livros, meus hábitos, meus amores,
Do meu sentir!
E me busco novamente, me encontro e desencontro
Me desmonto e me descaracterizo
Nessas desavenças do destino,
Em meio aos acertos do cotidiano,
Estou eu.

-Ah, estou louca!
- Mas todos somos loucos por aqui, minha querida Alice...! Apaixone-se por quem você é!
(e quase some)
(mas volta)
- E, se não souber quem você é...
- SE DESCUBRA! MERGULHE EM SI! DESBRAVE-SE! -, grita ansiedade.
- Bem, se você não souber quem você é...
(retome o controle e sua fala)
Isso é ótimo, porque você pode ser quem quiser!
- Um bardo, um louco, um bêbado!
- Uma princesa... Não, uma guerreira amazona!
- Uma menininha que descobre um mundo impossível bem de baixo de seu nariz...
(e volta)
- Ou, sei lá... Se ainda restar dúvida, procure ajuda profissional.

(talvez você esteja ouvindo demais as vozes na sua cabeça...)
(risos)