Tem gente de quem a gente demora a se despedir. De você eu demorei
quase um mês para poder me desvencilhar de sua história. O sol já
estava dando as caras, e eu tava chorando, não tenho pra quê
mentir, né? Depois de aproximadamente duas semanas sem querer te
ver, porque sua história é triste demais, depois de sua história
ter se tornado pungente demais, eu decidi que precisava te deixar ir,
assim como muitos outros devem ter precisado te deixar ir. Talvez sua
história tenha se tornado tão carnal para mim por questões de
empatia, por ficar triste por alguém que amou alguém que mal chegou
a conhecer, como se tivesse amado apenas uma lembrança… Como se
tivesse amado apenas um sopro e, ah, a poeta-não-jornalista dentro
de mim sente! E como sente sua história… Como se conseguisse vê-la
passando pela minha visão periférica num quarto meio escuro, como
um vulto, um espectro preso na narrativa não muito linear escrita
não para quem quer entender mas sim sentir. Como se você fosse
apenas aquela pessoa de quem falam, falam, falam, mas nunca aparece
nos roles. E essa é a coisa a seu respeito, não é? Tenho você
perto de mim, andamos nos mesmos lugares, vivemos na mesma cidade,
cruzamos a Rua da Saudade, mas só nos encontramos naquele mundo
ideal, meio fora da realidade e meio dentro dela, meio Mundo das
Maravilhas, meio Mundo de Sofia. MAS AO MESMO TEMPO, você estava
longe… Tão longe e inalcançável que eu nunca poderia sentir como
é passar a mão em sua peruca rosa, nem estar bebendo no bar de
Nalva onde você decide dar um show em cima do balcão porque,
realmente… Às vezes é melhor surtar e se deixar consumir pelo
sentimento do que se deixar engolir pela dor. Às vezes é melhor
surtar do que se descobrir num sonho tão bom que a vida real se
torna um pesadelo. E quando eu percebi, eu já te amava sem nem mesmo
te conhecer. Sem nem mesmo ter muito contato com você, eu queria
saber mais, mais e mais sobre você. Talvez tenha sido o tarot. Mas
acho que a vida é isso, né? A gente encontrar o outro e ouvir sua
história e encontrar um pouco de Esperança nesse mundo louco e
cheio de dor e sofrimento. Talvez tenha sido a tatuagem de ouroboros
que imagino que você tenha escondida em algum lugar do seu corpo. Ou
talvez tenham sido os cigarros, não sei… Mas depois de duas
semanas sem chegar perto de você, eu precisava me despedir. E como
foi uma despedida agridoce! Eu queria mais. Eu queria muito mais de
você. Mas você é senhora de si e decide o quanto de você irá nos
mostrar. E como você foi maravilhosa, Madame Xanadu! Como você foi
DESLUMBRANTE! Deslumbrante, artística e graciosa, como uma Ópera. Excêntrica! Como aquela música do Queen! Qual o nome mesmo? “Bohemian
Rhapsody”! Saiba que apesar do curto tempo e da sua necessidade
fugaz, levo um pouco de você comigo a partir de agora e para todo o
infinito, até que eu chegue lá do outro lado e me encontre com
você. Obrigada por tudo, Madame Xanadu. Obrigada pelo encontro e
pelas reflexões. É sempre bom encontrar com quem nos faz pensar. E
sentir. E ao jornalista-não-poeta que trouxe sua história ao mundo,
eu só espero que ele saiba que não chegou perto da minha
expectativa porque ao pegar nesse livro de capa místico-misteriosa,
eu não sabia totalmente o que esperar quanto à foma como essa
história seria contada. Mas na verdade, Mad (posso chamar de "Mad", né? A esse ponto, acho que já sou íntima de você e, inclusive, devo dizer que adorei o "trocadilho" com a tradução da palavra na língua inglesa pro português) superou toda e qualquer
expectativa que eu poderia criar. Madame Xanadu é um encontro com o
qual todos deveríamos ter. E sentir. Adeus, Mad. Se cuide. Não deixe de se cuidar e se ame desesperadamente, todos precisamos disso. Desejo
que você um dia encontre a paz e a felicidade que tanto merece e
deseja.