(observa a fumaça saindo da xícara)
(é chá de
camomila)
E o setembro, é
amarelo.
O setembro é
amarelo como o amarelo de Van Gogh
Amarelo que ele
usava quando estava feliz
(nas raras vezes em
que experimentou a felicidade real e plena, o amarelo estava lá)
Amarelo dos campos
de trigo,
Dos girassóis,
Presente também nos
autorretratos,
Cuja ausência de
vida e felicidade
Estavam estampadas
nos olhos tristes daquele homem
Os autorretratos do
artista insaciável e implacável,
Sofrido, internado,
intenso, marginalizado.
REJEITADO!
(um pobre demônio,
odiado por tantos ignorantes que não entendiam…)
(em minha mente,
faço de meus braços seu aconchego)
(volto no tempo para
lhe dizer: “Sim, você é amado. Sua arte transcende os tempos e
aqui permanecerá até mesmo depois que eu me for.”)
O tiro no peito
naquele 27 de Julho
O TIRO QUE CAUSOU
DOIS DIAS DE SOFRIMENTO!!!
“A tristeza vai
durar para sempre...”
E morreu.
Tanta dor que tirou
a própria vida…
Que forte, que
intenso…
Uma decisão tão
definitiva…
Que digno de
reflexão!
Em seu túmulo,
girassóis amarelos.
Amarelos como
setembro,
setembroamarelomêsdeprevençãoaosuicídio!
O mês dos holofotes
dos Digital Influencers,
Aqueles que tem
ibope falando verdades genéricas,
Que sentam num trono
de caveiras da autoestima alheia,
Ao dizer que devemos
nos amar mais.
Como se fosse um
passo-a-passo simples de seguir,
Aqueles que abrem o
“inbox” para conversar
Mas pelas costas,
dizem que Fulano tem “a energia pesada”.
E falam de suicídio,
Como se fosse
simples,
Como se não fosse
delicado…
Como se não
existissem doenças mentais,
COMO SE FOSSE
POBREZA DE ESPÍRITO!!
Como se “amor
próprio” fosse uma droga vendida em qualquer esquina…
AMOR
PRÓPRIO VIROU RECEITA DE BOLO AGORA, FOI?
FALA
DE PREVENIR SUICÍDIO
SÓ
FALA DE AMOR PRÓPRIO
E
AINDA ESQUECE DAS DOENÇAS MENTAIS
PORQUE
DOENÇA MENTAL HOJE EM DIA É TABU
Mas
você precisa se amar mais…
DIGA
COMO!
ME
FALE, Ó GRANDE GURU DA AUTOESTIMA
DIGA
COMO ME OLHAR NO ESPELHO E GOSTAR DO QUE VEJO
DIGA
COMO NÃO ME SENTIR REPUGNANTE
DIGA
COMO ESQUECER AQUELA BESTEIRA QUE FALEI HÁ CINCO ANOS!
DIGA
COMO ARRUMAR FORÇAS PARA LEVANTAR DA CAMA!
DIGA
COMO! EU INSISTO!
Diga
como… Como eu consigo fazer uma atividade cotidiana, a mais básica…
Sem que minhas energias acabem completamente…
QUANDO
MAL POSSO PRESTAR ATENÇÃO AO MUNDO EM MEIO A TANTOS GRITOS DA MINHA
CABEÇA
QUANDO
RESPIRAR É DIFÍCIL
PORQUE
MEUS PENSAMENTOS RUDES
SÃO
ALTOS
DEMAIS
E
OS SENTIMENTOS HOSTIS TORNAM O DESERTO DA MINHA MENTE UM LUGAR
INÓSPITO
(o
deserto amarelo como o setembro)
ONDE
NEM FLOR NASCE!
NEM
MESMO UMA ERVA DANINHA?
(estou
cansada…
Recolho-me,
deito em posição fetal)
Minha
cabeça não descansa,
Meus
olhos não páram…
As
cores não são mais vívidas,
Nem
mesmo o amarelo do setembro!
(e
penso em desistir, em me machucar, afinal o mundo provavelmente será
melhor sem mim)
VIVO
SUFOCADA,
Pressa
no pesar da minha própria existência
E
dói, e pesa…
E
me canso do peso de quem sou
Quero
sair de mim!
Mas
é claro que não consigo…
(suspira,
deixa seu peso cair no sofá)
Preciso
me amar,
Não
posso ser outra pessoa, afinal.
Não
tenho outra escolha.
Ceder
à morte, nunca.
Na
rádio, ouço pela segunda vez ao dia “Hey Jude” tocar…
“You
don’t have to carry the weight of the world on your shoulder...”
Nem
ele, nem eu, nem ninguém.
Considero
isso um sinal do Universo,
Para
viver um dia de cada vez,
Tentar
aprender a me amar,
Um
passo de cada vez,
Uma
pequena (ou grande) felicidade de cada vez,
Plantando
um girassol em cada passo de meu trajeto,
Respiro!
Uma
vitória por vez.
Calando
as caraminholas da minha cabeça pouco a pouco…
Ah,
o chá esfriou…
Agora
posso bebê-lo.
Talvez
a camomila me acalme…
Engraçado
que camomila é amarelo, né.
Amarelo,
Virgínia.
Que
nem setembro amarelo.
(mas
todo dia é dia de lutar
contra
os vilões dentro de nós)