quarta-feira, 4 de março de 2020

Todas as queimadas me são importantes.






Às chamas da vela amarela dedicada aos meus ancestrais e guardiões,
Queimo as palavras da última lembrança que eu tinha daquele que não merece ser lembrado.
Palavras essas que não passaram de uma mentira, das quais nem me lembro mais, assim como já não lembro mais de seu rosto,
Um esquema arquitetado com qual objetivo nunca saberei.
E nem quero.
O que quero é que os pesadelos parem.
Que a repulsa passe.
Que eu não sinta a bile na minha boca só de imaginá-lo mais uma vez na minha frente.
Entreguei ao fogo porque ele sabe o que fazer com isso melhor que eu.
Transmuta, liberta.
A mão quase queimou, mas não passou de um beijo do meu protetor.
Quentinho. Gostoso. Acolhedor.



As pessoas mentem, mas o fogo, nunca.
Confie apenas na voz do fogo.
Pena que foi rápido demais.
Eu gostaria que tivesse durado mais tempo,
Que eu pudesse observar melhor.
Mas foi tão rápido quanto tudo aconteceu,


No tempo que tinha que acontecer.
Queimou bonito, o fogo.
A vida é feita de despedidas,
Precisamos abrir espaço pro novo.
O peso que saiu de minhas costas...!
Ah, como nos apegamos às demonstrações de afeto que nos foram feitas,
Ainda que mentirosas...!
Muito obrigada, sinto muito e boa sorte.
Nada nem ninguém que não me quer bem conseguirá chegar perto de mim.
Nada nem ninguém irá me colocar para baixo.
Que queime tudo o que não me cabe,
Que o fogo leve tudo o que não me pertence.
O quarto agora cheia a queimado.
Conforto.
Que cinzas busquem brasas.