terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Van Gogh e eu

É muito mais do que apenas arte. Vai muito além da própria arte, do simples "oil in canvas", ou daquele desenho desleixado, feito num papel qualquer com carvão, do momento ali registrado... É tão mais do que isso! Vai além da mórbida coincidência do tiro no peito que veio a matá-lo depois de dois dias agonizando e sofrendo, tenha sido no mesmo dia que é o meu aniversário.


É um conjunto de coisas, toda uma complexidade de pequenos detalhes e lembranças... Como o dia pela primeira vez que vi a "Noite Estrelada", quando tinha apenas oito anos, num dos livros da escola, a imagem que carrego comigo até hoje, cujos tons de azul, laranja e amarelo me fascinaram logo da primeira vez. Ou como quando o professor de artes nos mandou reproduzir o quadro dos girassóis e fiquei frustradíssima porque não consegui uma reprodução à altura... Mas como poderia? Eu tinha 12 anos e nenhum talento artístico. Depois de muitos anos, descobri que nasci para apreciar e não para criar.


Então é todo esse universo de coisas, de como um ser excêntrico consegue transformar seus humores, bons ou ruins, em arte, usando um jogo de cores que pode causar arrepios de excitação, ou uma tristeza tão calma e inerte que chega a beirar a paz de espírito. Ou o modo controverso como duas personalidades se completariam se tivessem a oportunidade de se encontrarem. Mais uma vez, a paz de espírito.

É uma mudança brusca de humor, daquele tipo que pode mudar tudo em segundos. Daquele tipo que fazem os projetos andarem, ou permanecerem onde estão. Talvez até que estes projetos acabem extintos.

Vai além de um simples jarro com alguns girassóis, que representam a vida e a morte, tanto quanto uma caveira com um cigarro na boca... É o lembrete de mudança, de nunca permanecer o mesmo, e que seja adepto e sujeito a mudar de acordo com o ambiente às vezes, mas que se esteja sempre preso a um porto seguro, que se tenha algo em que acreditar, e que deve-se permanecer fiel a si mesmo. Que devemos nos agarrar a algo que seja um guia, para que não nos percamos em nosso caminho.

E também tem essa fascinação pela noite, que chega a causar um efeito de quase aversão à luz do dia... É querer permanecer na noite, cujas sombras carregam um brilho único por causa da luz das estrelas.

Além de tudo, ou talvez, é acima de tudo, sofrimento. "Sorrow", em sua mais pura forma, de quando se tem um grito preso dentro de si, e aquele no na garganta, que se transformam num quase choro, mas que acabam em nada, como uma pequena chama no escuro, que acaba se rendendo, e se apaga. Quando tudo é silêncio. É o sofrimento em forma de silêncio, que é tão profundo, que machuca e dói tanto na alma, que acaba por doer no corpo. A automutilação. Metade de uma orelha sendo cortada, ou pequenos arranhões... Talvez cortes.

É, também, mostrar o seu próprio modo de enxergar o mundo, de uma forma única que jamais foi reproduzida por outra pessoa. 

É transformar algo mundano, algo tão cotidiano quanto um bar em arte. É transformar a calmaria de um campo de trigo cheio de corvos em beleza.

É sua personalidade se eternizando por meio de suas pinturas e desenhos, fazendo com que você viaje no tempo e se faça presente quase que em carne e osso junto com suas obras,

Não é só um bar, um café em Arles;
Não é uma família qualquer comendo batatas;
Nem só uma noite cheia de estrelas;
Ou um jarro com alguns girassóis;
Ou a imagem de uma caveira fumando...

É azul, amarelo e laranja.
É sua humanidade transmutada em arte.
É um ser humano, 
É "ser" humano acima de tudo.
E é ir além de seu tempo, de uma forma tal qual não se conseguia entendê-lo.
É ir além de nós,
Ir além do simples "eu" e "você".
É ir além da arte...
Vai além da arte... É muito mais complexo do que isso, mas também é muito mais simples.

É a humanidade, nua e crua.
E é paz de espírito.
Nada mais.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Realidade e submissão

Uma sala de cirurgia, de um hospital qualquer, num pedaço de terra esquecido por Deus. Ele usava roupas verdes de médico, aquelas que eles usam quando tem de fazer um procedimento cirúrgico em alguém. À sua frente, na maca, uma pessoa-robô, com o peito aberto, cheio de engrenagens. E, onde ficaria o coração, estava um pequeno espaço vazio, quase imperceptível.

Suas mãos firmes, com luvas ensanguentadas manuseavam uma pinça, que segura um chip. Dr. Victor Frankenstein sentiria inveja de um espécime tão perfeito, o modelo mais avançado de um ser humano robótico; sentava no trono da cadeia evolutiva. Só faltava mais uma coisa: o chip que concederia ao robô suas emoções e uma alma. O toque final de sua humanidade. Poderia ter excluído, aliviado do humano-robô a dureza dos sentimentos, mas se não fosse isso, o que seria de sua humanidade?

“Meu filho, te darei todas as emoções que você puder sentir, e uma alma.”, murmurou, inclinando-se para preencher o espaço vazio no peito de seu robô humano.
Fechou o peito de sua criação, e esperou que ele abrisse os olhos.

A vida o atingiu em cheio, como um soco no estômago. Não foi calmo. O robô puxou todo o ar que podia para dentro de si. Não tinha pulmões, mas o fez... É isso o que os humanos fazem. Seus olhos verdes encaravam seu criador com confusão. Seu pai, por sua vez, o olhava como se aquela fosse a coisa mais linda do mundo, sentia-se orgulhoso... Como um pai vendo o filho nascer. Ou Gepeto vendo Pinóquio criar vida. E seu filho era perfeito.

“Quem sou eu?”, o robô quis saber. “Qual é o meu nome? O que estou fazendo aqui? O que sou eu?”, sua voz de máquina fazia uma pergunta atrás da outra, quase sem parar, quase impossível de se entender.

Parou por uns segundos, e passou a mão por sua pele, descobriu que era humano... Mas sabia em sua programação, em sua natureza, que era outra coisa também. Outra coisa além da simples e pura humanidade. Era um híbrido, com o que se poderia dizer que eram as melhores atribuições de ser humano e de ser um robô. Sabia e sentia que era diferente.

“O que sou eu?”, perguntou de forma mais incisiva, porém um pouco mais calmo.
Seu pai procurou palavras, mas não conseguiu pensar em nada além daquelas que poderiam explicar tudo e nada ao mesmo tempo:
“Você é meu filho.”
“Mas não sou humano como você.”
“Não totalmente... Apenas uma parte de você é humana.”
“Por que eu sou assim?”
“Porque eu te fiz assim.”
“E quem você pensa que é para decidir quem eu vou ser, o que eu sou?”, um onda de fúria e indignação invadiu o robô,  fúria de um filho contra um pai.

Respirava fundo e observava a figura em roupas verdes, deixou que seus olhos analisassem rapidamente as manchas de sangue naquelas roupas... Seu sangue. E não pôde evitar quando pensou em si mesmo como uma aberração... Era diferente demais. E sofria. Pensou em como não poderia ser aceito pelos outros, em como não poderia ter amigos, e ficaria sozinho para sempre, sozinho com uma pessoa que, no momento, ele odiava. Odiava porque se não fosse por aquele homem que o encarava com expressão de uma presa ferida por um leão, ele não seria tão diferente... Foi seu criador que o fez daquele jeito, “Porque eu te fiz assim”, ele tinha dito.  Qual o problema em querer ser parecido com todos, afinal?
“Mas você é mais avançado!”, disse o pai num tom de desculpas e indignação. “Você só tem as qualidades de um humano, por exemplo, você não pode adoecer...”
“Se eu não sou humano, e também não sou um robô... O que eu sou? Eu não sou nenhum dos dois, e também não sei agir como tal.”
“Eu posso te ensinar... Se você fizer como eu te digo, você não vai ter problemas.”
“Ainda assim, não serei humano.”, o filho retrucou. “E também nunca serei um robô por inteiro... Eu sou uma anomalia!”, gritou.

O robô então fechou os olhos, e deixou que todas as emoções passassem por si, como se estivesse num barco, e apenas sua mão tocasse a água cristalina do lago onde estava. Raiva. Amor. Calma. Repulsa. Angústia. Felicidade. Frenesi... Medo. Então começou a sentir algo ruim, como se tivesse algo fervendo dentro de si, prestes a explodir. Estava sentindo demais. Olhou para seu criador e perguntou:
“Pai... Por que estou sentindo tudo queimando dentro de mim?”
“Porque é assim que é ser humano.”
“Como vocês aguentam?”
“Às vezes não aguentamos.”


Então, um último olhar foi lançado pelo robô. Para o nada, um olhar que transmitia nada... Quase calmo. E sua cabeça explodiu. Sua parte robô não agüentou o fardo de ser humano. Os sentimentos o afogaram e mataram.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Girassóis

Era muito claro... Tão claro que causou-lhe aquela cegueira temporária de um milionésimo de segundo, que mais parece uma eternidade, como quando se está em um lugar fechado e escuro, é preciso sair, e um dia ensolarado te faz cobrir os olhos. A luz era tamanha que faziam seus olhos doer. Mas não durou muito, logo se acostumou com a claridade.

Estava andando tranquilamente em seu pijama listrado, num campo onde só se via grama. Por todo lado grama, grama até o infinito. Nada além disso e o céu azul acima de si. A grama fazia cócegas em seus pés descalços.

Andava sem rumo, sem preocupações: não sabia para onde estava indo, nem se lá chegaria... Mas não se importava. Apenas era guiada por seus pés, e pela vontade de sentir o vento bater contra seu rosto. Talvez visse campos de girassóis.

Continuou a andar.

Não sabia o que viria a seguir.

A paisagem foi ficando cada vez mais clara, quase tão branca quanto a neve. Um arrepio percorreu seu corpo, e se abraçou, como que para se proteger. Mas não sentia frio. Na verdade, sentia nada... Nem percebia a estranheza daquele momento.

Ouviu algo.
Virou-se para procurar quem estava lhe fazendo companhia. Ou seguindo... Não importava.
Não viu nada, nem ninguém.

Voltou para seguir seu caminho e encontrou uma árvore.

Na árvore, viu uma criatura de cabelos ruivos, com pequenos cachos, e olhos incrivelmente azuis. Também tinha asas.

Grandes asas douradas, que sangravam, machucadas.

Ela olhou para aquele ser incomum, com o que poderia ser descrito como a mistura de curiosidade e deslumbramento, se seus olhos pudessem transmitir algum sentimento, se seus olhos dissessem algo... Se pudesse sentir.

Sob o olhar da aparição, andou até ficar a poucos metros da árvore, de um lugar onde pudesse analisar a aparição. Decidiu que estava olhando para um anjo. O anjo sentava em um dos galhos da árvore, mais parecia uma escultura de gelo e mármore... Em seus olhos, ela pôde ver lágrimas acumuladas, em seu rosto, viu o rastro das lágrimas. Apesar de não ter expressão facial definida, era óbvio que o anjo estivera chorando.

Chorava e suas asas sangravam.

“Por que estava chorando?”, ela perguntou.
Não obteve resposta, apenas o peso do par de olhos marejados sobre si.

Então sentiu.

Sentiu vontade de ajudar, de saber qual era o problema, de cuidar... Vontade de entender e conhecer mais sobre esta figura incrivelmente linda para a qual olhava. Vontade de deixar sua mão percorrer as asas douradas.
Deu um passo à frente. Se aproximou e viu, que com um movimento quase que imperceptível, seu companheiro se encolheu. Ou seria companheira? “Afinal, anjos tem sexo?”, se perguntou.
Deu outro passo. Pisou num graveto, que quebrou. O barulho daquele pequeno graveto quebrando foi como o de um trovão.

O anjo virou a cabeça para o lado, como um animal que ouve um ruído ameaçador, que ninguém mais consegue ouvir. Ela quis perguntar algo, mas não conseguiu. Abriu a boca, mas a voz não saía. Talvez sua língua estivesse colada ao céu da boca.
“Você precisa ir.”, disse uma voz grave em sua cabeça. Era uma voz que transmitia poder. Ela sabia a quem pertencia, e não era a sua consciência.

Relutou, sentiu-se desamparada. Não queria ir e deixar seu novo amigo lá... Seria amigo ou inimigo, no final das contas?

As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto do anjo.

“Não chore...”, ela tentou parecer acalentadora, confortante.

Então, os passos que haviam parado para conhecer seu novo amigo incomum, foram transformados em longos passos, e depois, numa corrida. Viu a criatura cair da árvore, e correu para ampará-la.

A claridade acabou, estava tudo escuro, novamente. De repente, a claridade estava de volta. Mas dessa vez era diferente. Eram as luzes do metrô. Havia dormido mais uma vez... O mesmo sonho estranho.

Perdeu sua parada. Pela terceira vez naquela semana.

E não viu os campos de girassóis.

domingo, 22 de junho de 2014

Copa de Ninguém

Ninguém o conhecia, nem ao menos sabiam seu nome... Nem mesmo ele. Era tão desconhecido, que costumava acreditar que seu nome era Ninguém, e seu apelido seria N. Era realmente a personificação do nada; um vazio em forma de pessoa. Quando tinha seus oito anos, conseguiu entrar no estádio que sediava um dos jogos da Copa do Mundo, de mãos dadas com um jogador de seu país. A Copa acontecia no país onde nascera e morava. Era muita sorte para um garotinho de oito anos de idade, apaixonado por futebol. Sentiu uma felicidade tão excruciante que imaginou que seu coração fosse explodir. Mais sorte ainda quando seu país venceu aquela Copa naquele ano, pela primeira vez, e ainda por cima, jogando em casa. N tinha certeza de que foi por sua causa, sua presença num dos jogos foi o amuleto da sorte para os jogadores que representavam seu país.

Depois disso, seu país nunca mais venceu uma Copa do Mundo.
Depois disso, N nunca mais sentiu essa felicidade de achar que o coração poderia explodir dentro de si.

O fato de que seu país nunca mais conseguiu ao menos chegar às finais da Copa do Mundo apenas aumentou sua certeza de que foi N quem deu sorte aos jogadores naquela fatídica Copa, dos seus oito anos de idade. Ninguém o conhecia, mas ainda assim, N tinha feito com que seu país vencesse a Copa do Mundo!

Anos depois, lá estava N assistindo ao jogo da final da Copa... Por uma ironia, ou talvez presente do destino, estava no mesmo estádio onde havia entrado segurando a mão de um jogador de seu país. A seleção de seu país conseguiu chegar à final pela primeira vez desde aquela Copa. Aos 42 minutos do segundo tempo, o astro da seleção fez o gol decisivo, que garantiu a Taça da Copa para seu país.


Para N, foi como voltar no tempo: por um momento, ele voltou a ser aquele menininho de oito anos de idade, igualmente feliz e orgulhoso... A felicidade excruciante voltou e, mais uma vez, se foi. Acreditou que seu time ganhou pelo mesmo motivo que ganhou pela primeira vez anos atrás: sua presença. Comemorou, e ao final de tudo, deixou o estádio e voltou para casa. Tomou um banho, colocou seu pijama, deitou na cama e fechou os olhos para dormir. Sentiu-se na presença de anjos, adormeceu e nunca mais acordou. Continuou desconhecido por todos, Ninguém sabia seu nome.

domingo, 18 de maio de 2014

Sobre os olhos.

Olhos.
Olhos que vêem,
Olhos que sentem,
Que expressam sentimentos.
Que são as portas da alma;
Os portões para um infinito...
Um infinito de estrelas, de poeira espacial de um ser.

Tristeza, felicidade, cansaço.
Tudo pode ser visto pelos olhos.
Os grandes reveladores de segredos.
Um olhar é o suficiente para mostrar o que alguém sente.
Mas nunca podem mostrar o que alguém não sente.
É tudo questão de Ação,
E não de Omissão.
Olhos não trabalham com omissões.

Olhos anciãos, de alguém que acha já ter vivido tempo demais.
Olhos curiosos, de um bebê que ainda tem uma vida toda pela frente,
Um mundo inteiro de coisas para ver e aprender.
Olhos que capturam todas as imagens,
Guardam impressões
De tudo, e de todos.

Olhos canibais,
Olhos sombrios.
Olhos maliciosos, de amantes que se encontram às escondidas...
Na calada da noite, sem ninguém mais saber.
Olhos tristes, que são como uma barragem:
Já tão cheios de lágrimas que a próxima a se formar, vai ser o suficiente para fazê-la rebentar.
Olhos atentos, arregalados, de alguém que acabou de apagar a luz do quarto,
E agora está no escuro.
Olhos alegres, de quem acabou de ter uma surpresa.
Olhos de gente que “sorri com os olhos”.

E meus olhos, não olhos cansados, nem inexpressivos...
Mas olhos curiosos, meio fascinados.
Observando o olho na tela feita com tinta óleo, e cores vivas:
Um olho que expressa a mistura de frenesi com choque,
De um soldado que acabou de ver um homem ser morto na Guerra.
E os olhos apáticos do homem morto.
Olhos sem brilho.

Olhos sem vida.
Olhos.

domingo, 4 de maio de 2014

A estranheza do relacionamento na visão d'Ela

“Você conseguiu assistir ‘Ela’ todo?”, perguntei.
“Já assisti duas vezes.”, foi a resposta.
Estava no clima de assistir um filme diferente, um romance... Deixar a rotina de filmes de ação ou suspense, até mesmo as comédias americanas estilo “American Pie”. Não, um romance dessa vez seria bom. E por que “Ela”? Porque Joaquin Phoenix. Só por isso.

Comecei a ver o filme e já estava de coração partido, três minutos de filme foi o suficiente para me causar esse sentimento: Theodore trabalhava numa empresa que “vendia” cartas. Ele escrevia cartas de amor, de pedidos de desculpas, cartas saudosas, cartas de congratulações, todo tipo de carta. Cartas delegadas a ele, muitas vezes, desde o início do relacionamento de um casal. Haviam terceirizado os sentimentos.

Pensei: “Este é o outro lado da moeda da tecnologia... Ao mesmo tempo que ela pode aproximar pessoas, ela também pode afastá-las. A tecnologia pode destruir o romantismo do mundo, pode acabar com tudo o que é romântico.”

As pessoas não mais diziam o que sentiam de forma verdadeira, tinham que mandar outra pessoa fazer isso, porque não tinham tempo, ou porque não sabiam escrever e colocar o que sentiam no papel. Passei a me perguntar quantas pessoas já fazem esse tipo de coisa hoje, quantas pessoas escrevem os sentimentos de outros, e os entregam de bom grado para outra pessoa... É como se fosse um triângulo amoroso, mas no qual só duas pessoas sentem. Quem escreve as cartas, e quem as recebe.

Talvez seja loucura minha, até um pouco de ilusão, querer que as pessoas sejam mais gentis, que sejam mais carinhosas e falem mais “Eu te amo”. Até porque é difícil... Eu sei que é difícil porque tento fazer isso todo dia. E nem sempre tenho sucesso.

Outra coisa louca que percebi foi que estava me afundando em preconceito ao pensar: “Não acredito que ele está apaixonado por um computador!”, mas depois parei para pensar ao fim do filme. Percebi que o que o filme tenta mostrar é a estranheza de um relacionamento hollywoodiano e, muitas vezes, da vida real: você conhece a pessoa, passam um tempo juntos, então um dos dois diz algo que causa uma pequena epifania, algo que te faz pensar na pessoa de uma forma diferente. Então, em algum momento, vocês se apaixonam. Ou então, vocês tomam conhecimento desse sentimento. Aí vem aquela montanha-russa de sentimentos, o frio na barriga e todos aqueles clichês que sabemos quais são, mas que são apenas respostas do nosso cérebro a certos estímulos de forma romantizada. E quanto mais tempo vocês passam juntos, mais vocês se apaixonam um pelo outro, todo mundo já sabe disso.

Aí vêm as flores, os recadinhos amorosos, as fotos nas redes sociais com longas declarações de amor, as mensagens deixadas de batom vermelho no espelho do banheiro...

E, certo tempo depois, vem a decadência. Tudo tem seu ápice, e tudo tem seu declínio. Às vezes, o declínio é tão rápido e brusco, que é como uma queda livre, como se as cordas que seguram e movimentam um elevador fossem cortadas. Com a volatilidade dos relacionamentos atuais, estar com alguém muitas vezes acaba por ser uma incerteza: você está com ela hoje, mas não sabe se está amanhã.

Não vejo mais os relacionamentos de antigamente, cuja definição de “acabar cedo” indicava que o relacionamento acabou antes dos 50 anos juntos. As pessoas namoravam (às vezes não, eram obrigadas a casar pelos pais mesmo), noivavam, casavam e ficavam juntos. Mas se me perguntarem, é claro, É ÓBVIO que existem aqueles relacionamentos que conseguem perdurar as crises impostas pelas adversidades da vida, toda aquela história de “Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, e acabam em casamento, nem que seja para o casal se divorciar três meses depois da data do casório, porque não conseguirem conviver com o outro no tempo integral daquilo que é “estar sob o mesmo teto”. Mas também tem aqueles que só acabam no final da vida, depois de muitos anos juntos, ou às vezes, poucos anos juntos, mas que foram separados por uma fatalidade da vida. “Até que a morte os separe.”, é assim que dizem na hora do casamento, né? Toda a minha admiração para quem consegue fazer isso, esses casais são exemplos a serem seguidos por todos nós.

Mas agora, deixando de lado os casais que  acabam felizes, vamos voltar aos relacionamentos que costumo ver com maior freqüência: vem os ciúmes, as brigas por motivos importantes, ou qualquer outro motivo mesquinho que seja, e você vê um relacionamento construído acabar por besteira. Bons momentos que vocês passaram juntos? Você não consegue lembrar de nenhum. Até porque, para conseguir aceitar que vocês tiveram bons momentos, mas que por força maior, vocês precisaram se separar, é preciso muita maturidade. E é difícil pensar com clareza e maturidade quando se está machucado. Você acaba ferido, o outro também, cada um amuado em seu canto. Evitam até freqüentar os mesmos lugares, para não esbarrar com o outro, num desses encontros casuais que a vida resolve preparar para pregar uma peça em você.

Às vezes a culpa não é de ninguém, às vezes é dos dois. Mas talvez isso não importe muito, quem vai saber ao certo o que importa e o que não importa no momento da briga?

O que importa é que existem coisas que acabam, que passam por nós como um sopro de vento. É assim como relacionamentos, e as pessoas ficam com medo de deixar o outro ir embora, de seguir com sua própria vida, às vezes por ter desaprendido como fazer isso, às vezes por medo de se estar sozinho, ou às vezes pela simples conveniência de ter outra pessoa ao seu lado. Acho que é por isso que as pessoas ficam tristes, quando na verdade, tudo o que elas queriam era se permitirem um pouco de felicidade, uma pequena faísca de felicidade em meio à escuridão da vida cotidiana, cheia de estresse. Para muitos, um relacionamento é uma válvula de escape, afinal, é a presença do outro que vai te fazer esquecer antigos amores, é um jantar especial que vai te fazer esquecer de um dia ruim no trabalho ou faculdade, um gesto de carinho que vai apagar da memória, mesmo que momentaneamente, uma briga com um familiar que se ama muito. Muita gente associa a felicidade a estar com alguém, estar apaixonado por alguém. Sinto que não posso culpar ninguém por isso.

Foi então que percebi que, na verdade, “Ela” trata disso tudo. É o “Ou você está comigo ou não está.”, mesmo que isso tenha como resposta um “Eu estou com você e não estou com você.”, porque um dos indivíduos do relacionamento é um sistema operacional que está apaixonado por mais 641 pessoas. Até porque isso acontece na vida real, segundo me disseram... Um minuto, você está apaixonado por uma pessoa só e, quando menos percebe, tem outra pessoa em sua vida que você também ama. Não vou adentrar nesse dilema.

No final das contas, “Ela” usou voz maravilhosa de Scarlett Johansson, quando poderia ter usado a atriz em “carne e osso”, para contar uma história qualquer: o casal se conhece, se apaixona, e eles terminam por algum motivo. Mas por se tratar de uma personagem diferente, por apenas ouvirmos sua voz, e nunca vermos seu rosto, por se tratar de uma relação mais  sentimental e menos física, é uma história que nos faz parar para refletir por certo momento.


Bem, isso ou talvez seja só aquela sensibilidade causada pela madrugada numa garota que acaba por escrever algumas palavras que talvez nem façam sentido algum às 03:00 da manhã.

domingo, 27 de abril de 2014

Nada

Uma manhã chuvosa, o céu nublado... Uma felicidade natural, um bom humor causado pelo tempo fechado, uma satisfação derivada de um contraste. A manhã estava boa demais para sair de casa e me aborrecer com os imprevistos do dia-a-dia. Desmarquei todos os meus compromissos, e não me dei ao trabalho de trocar de roupa: fiquei de pijama, enrolada num edredom. Uma xícara de chá e, para completar o cenário, uma máquina de escrever me encarando, sua página em branco esperando para ser escrita.

Qual seria meu tema dessa vez? Um romance? Uma comédia? Uma breve história de suspense, talvez? A melhor coisa era saber que uma faísca de ideia poderia levar a um universo totalmente novo. Ou a uma história que já foi contada muitas vezes... Uma história tão usada que, se fosse uma imagem, seria um chinelo tão gasto que já está com buracos. Ou aquele livro tão velho e tão surrado, com páginas amareladas pelo tempo e folhas amassadas por uma chuva qualquer. Ou uma fotografia de um casal, amassada e jogada no lixo num momento de raiva, mas retirada de lá, no momento da reconciliação.

No final, algumas histórias são releituras de outras, contadas com outras palavras, mas sob a visão de outra pessoa. Como pessoas trocando de roupas: a essência é a mesma, cheias de sentimentos, sofrimentos e alegrias, impressões boas e impressões más, só o exterior que acaba sendo diferente, os corpos e as roupas.

Deixei que meus dedos corressem pelas teclas, meio prestando atenção ao que escrevia, mas ao mesmo tempo pensando nas próximas palavras que deveriam vir. Sempre que sento para escrever, é como uma grande aventura, começo sempre com uma folha em branco e uma máquina de escrever, mas nunca sei onde vou terminar.

O telefone tocou, não dei importância. Continuei a escrever.
Escrevi até meus dedos doerem.
Escrevi até perder o fôlego por prender a respiração, no frenesi de escrever alguma cena importante.
Escrevi até o papel acabar.

Escrevi sobre uma menina que acordou um dia, com uma epifania de vida e decidiu seguir seus sonhos. Fiz uma bolinha de papel e a atirei no lixo perto de mim.
Escrevi sobre vampiros, lobisomens, extraterrestres, sobre seres incríveis que habitavam um mundo desconhecido, totalmente novo e único, onde tigres tocavam violoncelo e peixes usavam roupas retrô de mergulho.
Joguei tudo no lixo.
Nada prestou, nada me interessou.

Tentei um serial killer, um canibal e um ladrão de banco.
Todos no lixo.
Tentei deuses gregos, romanos e nórdicos.
Também foram parar no lixo.
Nada prestou, nada me interessou.

Acabei por me desconcentrar e andei pela casa.
Em certo momento do dia, quando não se está fazendo nada, você começa a esperar que algo aconteça, algo que tire do tédio, ou algo que te dê inspiração para criar alguma coisa nova e interessante.
Esperei pelo correio e fui ler minhas cartas. Só recebi contas... Ninguém mais manda cartas hoje em dia.
Esperei por alguma surpresa... Flores, talvez. Mas as flores não foram enviadas para mim. Se foram, ficaram perdidas juntamente com o entregador, que não sabia meu endereço.
Esperei por paciência, e por vontade de fazer alguma coisa, mas eu não conseguia parar mais de um minuto e fazer uma coisa só.
Nada.

O dia se passou desse jeito, sem produtividade alguma.
Foi quando percebi que minha folha deveria ser preenchida com uma pequena reclamação...
Um lembrete, para colocar na porta da geladeira, num quadro, para transformar meu lembrete em arte, ou para tirar uma foto e usar como wallpaper do celular:

“Todos os dias, tudo pode acontecer... Inclusive nada.”



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PS: Meus mais sinceros agradecimentos ao amigo Lucas Medeiros, que permitiu que eu usasse um dos       desenhos dele para ilustrar um dos meus textos!                                                                                         

PPS: Atendendo a pedidos, o "Na falta de uma ideia melhor" agora tem uma página no FB, então quem ainda não curtiu e se interessar, por favor, be my guest! https://www.facebook.com/nafaltadeumaideiamelhor

domingo, 13 de abril de 2014

Raízes Aéreas

Nunca fui do tipo de pessoa que cria raízes.
Algumas pessoas acham isso estranho,
Isso de querer morar em lugares diferentes,
Cidades diferentes,
Respirar novos ares,
De ficar empolgada ao pensar em aprender uma nova língua.

Não gosto de mesmice,
De saber que ficaria presa ao mesmo lugar minha vida inteira...
Não quero uma âncora, quero asas.
Quero poder ir onde eu quiser, quando eu quiser...
É só decidir que quero ir.

“Pra quê criar raízes quando posso sair descobrindo o mundo?”, digo eu.
Não preciso de um lugar para chamar de “lar”.
Não preciso de um lugar para onde voltar.
Só preciso de lugares onde chegar.
Não é caso de não ter um porto seguro,
É caso de viver aventuras.
É isso de acordar e não saber exatamente para onde se está indo.
Mas é a certeza de voltar com ótimas memórias.
A certeza de acordar já apaixonada pelo lugar,
E ir dormir mais apaixonada ainda.
Preciso é de conhecer lugares novos,
Conhecer gente nova.

Me perder nos encantos de uma cidade que acabei de conhecer,
Me encontrar em cada obra de arte pendurada nas paredes de museus.
Experimentar a culinária típica de cada lugar,
Aprender a falar a língua local,
As gírias, usar os termos errados.
Acabar por beijar um estranho, talvez... Quem sabe?

Aprender sobre a cultura, sobre os costumes locais.
Sobre as crenças das pessoas.
Respirar um ar rarefeito,
Ou respirar um ar tão limpo que você acaba intoxicado,
Por ter se acostumado ao ar poluído da cidade anterior.
Tomar banho nas águas doces de um rio,
Talvez até arriscar um banho de chuva,
Quem se importa com um possível resfriado?

Jogar uma moeda numa fonte,
E desejar que eu sempre possa fazer isso.
Conhecer novos lugares.
Nunca criar raízes.

Às vezes acho que eu até tenho raízes.
Gosto de imaginar minhas raízes saindo do centro da Terra.
E alcançando todos os lugares possíveis.
Tenho raízes em todos os lugares onde já fui.
Todos os lugares que já deixaram uma marca em mim.
Que me deixaram com boas lembranças.

No final das contas, talvez se as árvores pudessem falar,
Elas diriam que gostariam de não ter raízes.
Para poder ir onde elas quiserem.
No final das contas, não ter raízes não é uma coisa ruim.

E acho que, se as pessoas vissem o mundo como eu vejo,
Toda essa diversidade de cores e odores que, de volta,
Causam toda a sorte de sentimentos possíveis.
Talvez se eu pudesse emprestar meus olhos e coração por um dia,
Talvez as pessoas entendessem como é bom não criar raízes.
E aí, talvez ninguém quisesse criar raízes.
E quisessem viver mais aventuras.
Ou talvez, ter raízes como as minhas...


Um certo tipo meio diferente de raízes aéreas.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O palhaço

Um dia desses lembrei da primeira história que eu escrevi. Ou, ao menos, a primeira história que eu lembro ter escrito. Quis saber por onde andava aquele livrinho que recebi na minha formatura da alfabetização, contendo a minha história e de todos os meus colegas, queria relembrar, e ver o que eu escrevi.

Eis que esta semana, num jantar familiar, meu pai me pergunta: “O que você acha que deviam jogar em palhaços no circo? Tomates ou ovos?”, antes que eu pudesse pensar numa resposta, minha mãe comenta: “Não pergunte isso a ela, porque você não quer saber a resposta.”, finalmente respondi rindo: “Tiros. Ou facas. Mas de onde você tirou isso?”, ele apenas me respondeu com um risinho de criança que acabou de fazer travessura e um singelo “Isso não te lembra de nada, não?”
 
Foi com esse comentário que tive um estalo. Minha primeira história! A história foi sobre um palhaço, mas ao contrário do que todos pensam, eu não fui muito boazinha com o palhaço. Eis a história:

“Era uma vez um palhaço maluco que tirou a    roupa e os meninos que estavam assistindo começaram a vaiar.
O palhaço deu alguma coisa para o elefante, tirou uma pomba do sapato e dois coelhos da cartola.
 No final, os meninos jogaram tomate.”

Pois é, desse jeitinho, copiado na íntegra. Com uma letra enorme e o desenho de um palhaço que mais parece um jarro ambulante com elefantíase. A verdade é que odeio palhaços. Aliás, não odeio palhaços, mas prefiro que eles fiquem bem longe de mim. Se eu pudesse, entraria com uma ação de pedido de ordem de restrição para todos os palhaços do mundo.

Não me orgulho da narrativa, a história escrita em 1998 carece de detalhes. Se me perguntassem naquela época se achava que ia continuar objetiva desse jeito, eu provavelmente nem entenderia a pergunta. Mas se entendesse, eu responderia “Sim.”. Pronto. Uma palavra. Monossilábica. Falando pouco mesmo, apesar de dizerem que eu era uma criança tagarela e queria saber o motivo de tudo.

Mas anos se passaram, e a vida me tornou uma pessoa mais detalhista. Se hoje eu fosse escrever uma história sobre um palhaço, provavelmente começaria de um modo mais pomposo, talvez algo como “Era uma vez um palhaço com transtornos psicológicos que tirou a roupa...”, mas a verdade é que o palhaço não tirou a roupa. Ele não ficou nu em momento algum, ele apenas trocou de roupa. Foi apenas um mal entendido causado pelo mal uso das palavras, e de uma inocência infantil.

“E como você sabe disso?”, me perguntam. Eu respondo: eu lembro desse dia. Lembro do dia quando escrevi isso... Não posso dizer que lembro totalmente, mas lembro de detalhes... Lembro das carteiras azuis, agrupadas de seis em seis, as meninas de um lado, os meninos do outro. Lembro do alfabeto escrito acima do quadro negro, e das plantas perto das janelas. Das paredes brancas, com algumas cartolinas coloridas, trabalhos da nossa turminha da alfabetização. Lembro dos cabelos encaracolados de uma das “tias”, das caixas de madeira com giz de cera. Lembro do sabor do misto quente com suco de laranja que eu levava sempre para comer na hora do lanche. Dizem que sou boa com lembranças.

Lembro do “tanquinho de areia”, onde brincávamos com baldes, como se estivéssemos na praia. Do “Banho livre” da natação no final do dia de todas as terças e quintas, minha parte preferida do dia. Das idas à biblioteca para ler as histórias da Bruxa Onilda. Lembro e sinto saudades.
Mas desse dia, minhas memórias são como se eu estivesse olhando para uma ilha distante com binóculos, como uma foto com as pontas gastas pelo tempo. Como quando tomamos banhos quentes, e o espelho fica embaçado, então passamos a mão nele, formando um círculo para que possamos ver algo, e deixamos as extremidades embaçadas mesmo.

Lembro que nos deram papéis com quatro cenas, para escrevermos o que entendemos... Então, na verdade, o palhaço não tirou a roupa, ele apenas trocou de roupa. A “alguma coisa” que ele deu para o elefante provavelmente foi água. Ou ração. Lembro que era um potinho, então não dava para distinguir bem. Mas as partes da pomba saindo de um sapato, dos coelhos sendo retirados da cartola e dos tomates sendo jogados foram verdade. Eu juro.

Ou talvez eu tenha inventado esta parte dos tomates porque eu realmente nunca gostei de palhaços. Poderia ter feito um palhaço mais estranho, é verdade... Além de maluco, “estranho”, um “elemento suspeito”, tê-lo feito dar “alguma substância ilícita para o elefante, que começou a fazer acrobacias em cima de uma bola, segurando um guarda chuva”, para enfeitar a história...

Mas meus pais e avós ficaram tão orgulhosos de mim! E eu sempre tive esse problema, de ficar feliz quando vejo as pessoas que amo com orgulho de mim. Acho que consigo até imaginar minha cara de felicidade, e meu sorriso de dentinhos de leite.

É bem verdade que depois disso, passei anos para voltar a escrever... Claro, escrevia as redações da escola, mas elas eram tanto quanto “um parto”, como diria uma amada professora. Em 2008, no entanto, com algum estímulo de amigos e um certo professor de literatura, voltei a escrever. Escrevi coisas boas, e coisas não tão boas... Das quais me envergonho e preferia não ter mostrado a ninguém. Mas hoje, escrever se tornou não só um hábito, ou um hobby, mas uma necessidade... É meu modo de “esfriar a cabeça”, de esquecer frustrações e estresses, ou meu modo de mostrar algo legal que aconteceu comigo. Sou motivada por sentimentos de amor e felicidade, mas também posso ser motivada para esquecer coisas não tão boas... “Penso, logo existo”, passou a ser “Escrevo, logo existo”, e eu nem percebi.

Porém, tudo começou com essa história, a história do meu palhaço maluco. E apesar de eu não gostar de palhaços, esta história me deixa feliz, me enche de sentimentos bons... Parece que tudo isso aconteceu há 500 anos... Parece outra vida! Mas não é... É apenas uma parte de mim, uma pequena parte de mim, que nunca cresceu, como Peter Pan. Apesar de ser uma história de três frases apenas, três singelas e simples frases, não é preciso ser um gênio para entendê-las... Mas é uma história que me traz lembranças, lembranças de um tempo que não passo muito tempo recordando por causa da correria do cotidiano, um tempo quando minha única preocupação era não ficar muito suja de terra, para minha mãe não reclamar comigo.


Um tempo quando essa preocupação de não ficar suja de terra era completamente ignorada. Um tempo quando eu corria por diversão, e não por obrigação, para me manter saudável. Um tempo quando eu não tinha medo de subir em árvores. Um tempo de apostas de quem conseguia balançar mais alto. Um tempo de uma criança inconsequente e aventureira, que nunca parava para considerar se ia acabar quebrando alguma coisa ou não. Um tempo do qual sinto saudades. Um tempo que guardo num cantinho escondido no meu coração, um cantinho iluminado por desenhos de flores e solzinhos com rostos... Um cantinho que me faz querer voltar no tempo e permanecer por lá, porque ser criança é a melhor coisa que existe.

domingo, 30 de março de 2014

Mas, afinal, quem sou eu?

Sou uma folha em branco,
Meio amassada.
Sou uma folha seca do outono.
Sou um poço sem fim.
Sou o infinito.
Sou tudo.
Mas também sou o nada.
Sou o amanhã, sou o hoje.
Sou o tempo determinado,
24 horas,
48 meses,
Ou uma vida inteira.
Sou um pedaço de alguma coisa, minúsculo vagueando pelo tempo e espaço.

Sou uma antiguidade,
Uma coisa velha... Sou maturidade.
Mas sou uma coisa nova.
E sou as brincadeiras inocentes de duas crianças.
Sou uma obra de arte.
Sou a música que ninguém ouve,
A poesia que ninguém mais dá valor.
Sou aquele filme antigo, o clássico,

Sou um hippie que viaja pelo mundo num trailer,
E também sou uma herdeira milionária, que mora numa mansão.
Sou uma viagem para Londres.
Ou Dubai.
Berlin, talvez...
Sou um avião com destino programado,
Ou sou uma pena, guiada pelo vento.

Sou a noite.
Ou o dia.
Sou o calor,
Ou sou o frio, depende do meu humor.
Sou um extremo, ou outro.
Nunca um meio termo.
Talvez um pouco de indecisão, quem sabe?

Sou a marca de batom vermelho deixada numa taça de vinho.
Um telefone escrito num guardanapo,
Esquecido num bar qualquer.
Sou uma moeda que caiu do bolso de alguém,
Uma nota rasgada de um real, colada com fita adesiva.
Sou uma colcha de retalhos,
Mas sou uniforme.


Sou um modelo único.
Uma composição de carbono e sentimentos.
Mas que às vezes esquece que sentimentos existem.
Uma coisa estranha.
Mas ao mesmo tempo normal.
Sou a sanidade.
Sou um vício em jogos de azar,
Ou a leveza do desapego.
Mas sou a insanidade dos ciúmes.
Sou a intensidade dos amores impossíveis,
A fúria de um tsunami,
Tão imprevisível quanto um vulcão ativo...
Sou tulipas amarelas,
Ou sou crisântemos.

Estou meio perdida, meio esquecida...
Mas meio consciente de onde estou,
Esperando descobrir para onde vou.
Meio arrogante, mas deveras humilde.
Sou uma xícara de chá no final da noite,
Os segredos revelados na madrugada.
A tatuagem com significados escondidos.
Sou um livro aberto, mas meio fechado.
Uma edição limitada,
Feita sob medida para ninguém, por ninguém.
Um robô da sociedade, talvez...
Um androide.
E sou um androide sem par.


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domingo, 16 de março de 2014

Uma história de suspense.

Veneza, março de 2000.
Duas horas da madrugada.

Chuva forte, muitos raios e trovoadas eram o clima daquela quinta-feira. Ninguém na rua, além das gotas de chuva caindo ruidosamente no asfalto, e das árvores cujas folhas foram depenadas pelo frio do inverno que estava por acabar. Um cenário não muito favorável para a chegada de uma família a um hotel.

O hotel, mais parecia uma fortaleza, fechado desde a porta da frente até o portão da garagem.
“Que tipo de hotel fica fechado, mesmo que seja a essa hora?”, pensou a filha mais velha.
Pararam o carro na entrada da garagem, e o pai desceu para procurar por uma campainha, um zelador, alguém que pudesse abrir a porta.

De dentro do carro, a filha observava o pai na chuva, sem conseguir evitar pensar em Norman Bates, e na famosa cena do banheiro de Alfred Hitchcock.
“Sinistro.”, a filha mais nova sussurrou.
A filha mais velha ficou calada, para não ouvir comentários do tipo “Você está assistindo filmes demais.”, coisa que ela ouvia com freqüência. Porém, “Psicose” não foi o único filme que lhe veio à mente... Quantos filmes nos quais os donos dos hotéis matam seus hóspedes ela já assistiu? A conta já foi perdida há muito.
Quando encontrou uma campainha, o pai, ao tocá-la, levou um choque, o que o levou a dar um salto para trás, meio por um susto, meio pelo forte choque.
A mãe buzinou, para sugerir que fossem para outro hotel, um Holiday Inn do outro lado da rua, com aspecto menos estranho, e com portas abertas a qualquer hora, mesmo que isso significasse perder a reserva e ter de pagar uma multa, mas o pai fez sinal pedindo para que esperassem mais um pouco, ao ver que uma luz havia sido acesa dentro do hotel.

Alguém abriu uma cortina de dentro da casa, balbuciou alguma coisa não entendida em italiano, fechou a cortina rapidamente e saiu para saber do que se tratava.
Uma senhora com traços germânicos, de uma beleza andrógina, com cabelos bagunçados foi atendê-los.
Do carro, a mãe e as duas filhas só viram uma sombra descabelada por uma noite de sono interrompida por quatro estrangeiros.
“Qual a probabilidade de ela ser uma serial killer?”, a filha mais velha não conseguiu controlar a língua, esperando que a senhora os recebesse com um machado ou uma motosserra em mãos.

A casa era centenária, uma coisa antiga, cheia de histórias anciãs, mas que era constantemente reformada para o maior conforto possível dos hóspedes. Trata-se de um hotel familiar, a senhora que mostrou-se simpática e prestativa era a dona. Como já era tarde, ela disse que fariam o check in  no hotel pela manhã, que a família dormisse bem e que não se preocupassem com mais nada.
“Das duas, uma... Ou ela é uma pessoa muito ingênua e confia demais nas pessoas, ou ela é uma serial killer prestes a nos matar.”, a filha mais velha sussurrou para a mãe enquanto as duas subiam até o quarto, “Que tipo de pessoa acorda às duas horas da manhã e é toda sorridente e simpática? Só um serial killer prestes a matar!”.
A mãe a repreendeu com o olhar, mas a filha se defendeu:
“É muito mais fácil matar a gente sem o check-in do hotel... Para esconder os corpos e eliminar as pistas!”
“Você está muito paranóica.”, a mãe disse, abrindo a porta do quarto.

Ao fechar a porta, a filha viu uma grinalda de flores amarelas fúnebre, e um arrepio passou pelo seu corpo. O banheiro do quarto era tão limpo quanto um banheiro de hospital... “Um lugar que já pode ter sido um local de assassinato, de tão limpo e bem cuidado.”, pensou. A noite seria longa.

A filha mais nova não conseguiu dormir, incomodada com a cama, então foi para a cama dos pais. A mãe dormiu assim que deitou, e o pai ficou se mexendo, trocando de posições, tentando dormir. Meio sensitivo, sentiu a presença de mais alguém no quarto, alguém além das três pessoas que estavam ali com ele... Alguém que não o estava deixando dormir. A filha mais velha adormeceu logo, e acordou com a mesma rapidez, com a sensação de estar caindo, mas logo fechou os olhos para voltar a dormir, lembrando de um artigo qualquer que lera a respeito desta sensação de estar caindo, algo sobre isso ser um mecanismo de defesa do corpo, para quando há pouco oxigênio no cérebro.

Quando estava prestes a cair no sono, ouviu uma risada que ecoava no quarto todo, algo meio longe, mas ao mesmo tempo, muito próximo de seu ouvido, e sentiu um puxão no lençol. A garota ficou tão aterrorizada que o grito ficou preso em sua garganta, num nó que por pouco não se transformou num choro. Sem outra saída, ela teria de esperar o amanhecer para poder sair dali. Então, puxou as cobertas e ficou cantando mentalmente as músicas que aprendera na Igreja, até que finalmente adormeceu.

O pai virou para os dois lados, tentou todas as posições possíveis, até deitou no chão, mas não conseguiu dormir. “Por favor, me deixe dormir.”, ele pedia mentalmente para quem pudesse ouvir seus pensamentos. Sua noite foi fracionada, de pequenas sonecas, tão rápidas que ele mal percebia que havia perdido a consciência por alguns minutos.

Pela manhã, foram andar de gôndola pela cidade e à tarde voltaram para pegar suas bagagens e seguir viagem. Durante o dia, o antigo hotel não parecia tão assustador.
Mas, quando saíram de lá, saíram sem saber se estavam realmente vivos, ou se aquilo não passava de um eco de suas almas, que agora vagueavam pelo mundo, fora de seus corpos mutilados, ensanguentados, jogados num quarto cujas paredes estavam manchadas de sangue.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O menino das jujubas

Um dia normal, numa livraria comum... A livraria que visito quase toda semana, sempre que posso, nem que seja só para olhar quais os novos títulos, que provavelmente irei demorar a comprar, por causa dos vários outros livros que já tenho em casa, e ainda não consegui tempo para ler. Este é o carma de um amante de livros: ter vários deles para ler, e tão pouco tempo livre... Outra coisa que costumamos fazer é isso de estabelecer uma regra mental, uma proibição de comprar livros até que os que estão em nossas prateleiras sejam lidos.

“Você não vai mais comprar nenhum livro até que já tenha lido os outros.”, costumo dizer para mim mesma, em alguns dos meus vários diálogos mentais. Mas algo que nunca passou por minha cabeça foi: mas e quem não tem tanto dinheiro assim para comprar livros, e mesmo assim ama ler? Aliás, não é algo que nunca tenha passado por minha cabeça, mas é algo em que não costumo pensar muito.

Pois bem. Deixando meus pequenos devaneios de lado, volto à minha livraria comum. Estou passeando por entre os livros, vendo quais edições irei adquirir no futuro, ou irei ganhar de presente de aniversário dos amigos, quando uma cena chama a minha atenção: um menino de uns 13 ou 14 anos segurando uma revista em quadrinhos, perguntando ao vendedor quanto custava aquela edição. Ele era visivelmente humilde, usava chinelos bem gastos e roupas que eram grandes demais para ele. Além disso, carregava consigo dois sacos plásticos, contendo Deus lá sabe o quê. Segurava os sacos e a revista em quadrinhos.

Então, uma senhora loira, muito bem vestida e bonita, e aparentando ter muito menos idade do que provavelmente tinha, uma “coroa enxuta”, popularmente falando, pede licença e pergunta a respeito de um livro qualquer, que estava em falta. É aí que a história fica interessante: ela começa a conversar com o menino usando um tom amável... Algo que não pude ouvir. Porém, tratei de me aproximar, por pura curiosidade, para ver o desenrolar dos fatos.

“A curiosidade matou o gato”, não é? Talvez ele não tenha sido discreto o suficiente... Encontrei esconderijo por trás de uma mesa expondo histórias em quadrinhos, de onde eu podia ver o que aconteceria a seguir sem chamar muita atenção.
“Para a senhora”, o garoto diz, erguendo um pacotinho de jujubas.
“Obrigada”, a senhora ri educadamente, “mas não como doces.”
“Sem problema, você pode dar a seu marido.”, o garoto disse, ainda com o pacotinho entre os dois. “Eu vendo essas jujubas, e essa foi a que sobrou...”

A mulher pegou não só o pacotinho de jujubas, mas também retirou gentilmente a revista em quadrinhos das mãos do garoto, e disse:
“Posso te dar uma coisa?”, vendo que o garoto ficara sem jeito, ela repetiu, com maior ênfase: “Posso te dar uma coisa? Eu quero te dar essa revista em quadrinhos.”, os olhos do menino brilhavam de felicidade. “Você gosta de ler?”, ela perguntou, mas não obteve resposta alguma, além de um aceno positivo de cabeça.
“Você gosta mesmo de ler?”, ela quis confirmar o que ela já tinha certeza. Mais uma vez, o garoto assentiu. “Então me deixe te dar isso de presente.”, ela pediu, mas usando um tom autoritário. Um "Não aceitarei recusas" estava presente nas entrelinhas desta autoridade amável.

Me afastei, e segui com meu caminho por entre as histórias de Stephen King e Alexandre Dumas, na sessão de “Literatura estrangeira”.

Ora, o garoto não iria recusar... Eu não recusaria...! Talvez ele estivesse vendendo o pacotinho de jujubas justamente para comprar a fatídica história em quadrinhos. Ou, talvez, tenha passado um bom tempo juntando dinheiro para comprá-la, quem sabe? Só ele sabe. Um preço que, para muitos parece pequeno, coisa ínfima, que gastamos com um ingresso no cinema, ou até menos... Mas que, para aquele garoto em questão, custava o preço de muito esforço e oferecia o mundo... Era com o preço daquela HQ, que ele entraria num mundo novo, um mundo cuja porta é aberta assim que abrimos o livro. Um mundo desprezado por muitos... O mundo das palavras.

Aquela cena me deu esperança... Esperança de que todas as pessoas que não tenham condições de comprar livros com tanta facilidade possam encontrar pessoas assim. Pessoas que valorizam não só a leitura que elas próprias fazem, mas também, a leitura que outras pessoas podem fazer, e as experiências que as pessoas vão ter por meio da leitura, pessoas que podem proporcionar a outras o prazer da leitura. Não importa se era uma HQ ou um livro de 600 páginas, o que importa é o interesse em ler, e o que aquele garoto estava disposto a sacrificar para conseguir fazê-lo. Foi isso o que me comoveu e me deu esperança. Esperança e gratidão por ter presenciado uma cena dessas. Esperança de fazer isso por alguém um dia.

De certo modo, foi como ver uma cena de “A menina que roubava livros” na vida real. E me senti orgulhosa e feliz por isso. E, a partir de agora, sempre que pensar num exemplo de generosidade, é na senhora e no garoto em quem pensarei. Nas duas pessoas cujos nomes não sei até agora, nem me esforcei para descobrir, os dois que me ensinaram uma lição, a lição de abrir mais o coração para a generosidade. Porque a mente precisa de livros e histórias para manter-se viva, assim como o corpo precisa de oxigênio.


Quando estava saindo da livraria, dei uma rápida olhadela para o caixa, e lá estavam a senhora, o marido e o garoto, conversando sobre algo que eu já não podia mais ouvir. Em seu rosto, ela mantinha um sorriso terno, algo parecido com orgulho por encontrar alguém que ame tanto a leitura que estava disposto a sacrificar o pouco dinheiro que ganhara com muito suor, só para poder ler. E o garoto? Ah, o garoto tinha um sorriso radiante nos lábios, não sei se por felicidade de poder guardar seu dinheiro para outra coisa, talvez ajudar sua família, ou só pela felicidade pura que nos atinge quando finalmente conseguimos algo que desejamos muito, ou pelas portas que irão ser abertas para ele quando ele sentar para ler a história. Na verdade, acredito que seja uma mistura de todos esses fatores. 

Nunca a felicidade de alguém havia me deixado tão feliz como a daquele garoto.

Deixei a livraria com os olhos levemente marejados, um sorriso no rosto, um pouco mais de fé na generosidade humana, e o coração aquecido pela cena que tanto me tocara. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Trapaça

Não sei exatamente se a promessa de um bom filme foi deixada pelo trailer, ou pelo seu elenco. Acho que, no final das contas, foi um pouco dos dois. Bem, isso e talvez o fato de eu ter gostado de “O Lado Bom da Vida”. Entrei no cinema com grandes expectativas e deixei o cinema com uma sensação que pode ser bem explicada pela frase “Eu teria feito diferente”.

É bem verdade que “Trapaça” não é de todo ruim... Apesar do roteiro inicialmente confuso, tudo acaba por ser devidamente explicado. No entanto, toda essa confusão o torna cansativo, e faz com que o espectador queira que o filme acabe logo, restando a impressão de que este não é um filme bom o suficiente para ser assistido novamente. Apesar disso, seria uma boa ideia assisti-lo mais uma vez, principalmente aqueles que não entenderam a história da primeira vez.

Ainda, no que se refere aos bons pontos do filme, o figurino deve ser destacado, principalmente o de Amy Adams que, além de linda, usou roupas e sapatos de causar inveja a qualquer uma!

E as piadas? Bem, foram piadas engraçadas, e acho que esse é o objetivo de uma piada. O sonho de toda piada é ser engraçada.

Além de tudo isso, temos o elenco. Um elenco maravilhoso e atuações épicas. Não me surpreende que foram indicados ao Oscar. Vamos colocar Jennifer Lawrence, Amy Adams, Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Renner juntos, e adicionamos uma dose de Robert DeNiro, e o que poderia dar errado? Bem, o roteiro. Podemos ver Jen Lawrence completamente louca e alcoolatra nas cenas mais engraçadas do filme, e atores como Bale e Renner com personagens cujas características são opostas a Batman e Hawkeye. E eles incorporam esses personagens incrivelmente bem, deixando de lado o estigma de seus personagens mais famosos. 


A verdade é que são bons personagens, com características e personalidades marcantes, que poderiam fazer a telona explodir, interpretados por ótimos atores.  E são esses atores os responsáveis por carregar o filme nas costas. O filme deixa um pouco de ser cansativo porque, como esperado, ver esses atores em ação acaba por se tornar um grande prazer.

Por fim, se me perguntassem sobre “Trapaça”, eu responderia: “Tem tudo para ser um filme digno de Oscar de Melhor Filme, uma verdadeira obra-prima. Mas acho que David O. Russell acabou se perdendo no roteiro, e tornou a experiência do filme exaustiva. Não é um filme que eu indicaria, apesar de todas as coisas boas presentes nele. Apesar do plot twist no final do filme, e da fotografia que me deu a impressão de ser filha de um casamento Coppola-Scorcese.”


E eu não poderia, também, deixar de mencionar que aqueles que vão assistir o filme esperando que o senso de justiça seja massageado, poderá ser... bem, trapaceado.