Procuro palavras que combinem com essa melodia numa caixinha de música mas só encontro uma bailarina rodopiando, rodopiando, rodopiando...! Sei não, acho que é difícil... Acendo um cigarro com as faíscas que nascem do rodopiar da bailarina. Procuro fazer música com seu corpo dançando junto ao meu. O cigarro é costume acender depois de tudo, torna o ambiente sensual. Vamo tomar um banho junte?
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Avexadinhas #5
Que voz bonita...! Parece até um abraço. Tenho sentido falta de abraços da mesma forma que tenho me sentido indesejade. Jade é uma pedra bonita, né? Bonita que nem essa voz. Ah, se eu tivesse uma voz bonita assim... Minha voz ia valer mais que tudo. Hoje tudo tem que valer algo. Tudo para não pensar no que eu venho sentindo também. Tenho me esquivado. Fugir até meus monstros me pegarem... Covarde. Riso lindo, que nem essa voz.
Avexadinhas #4
Ouço a música entrecortada já sem saber se é falha dela, no fone ou na internet. Até isso? O que mais falhará comigo? Quem mais? É estressante, sabe? Viver com produtos com vícios, pessoas vazias e coisas pela metade... Sei não, é difícil aceitar coisas incompletas, afinal, já deixei de me apaixonar pelo que está infomple....
Avexadinhas #3
Dor na coluna em tons de amarelo. Deve ser do peso de carregar o mundo em minhas costas. Isso ia ser uma piada mas tiro saiu pela culatra. Queria torcê-la como se fosse um macarrão fusili, talvez assim volte pro lugar. Talvez não. A coluna, não a piada. Acho que preciso de um travesseiro novo.
Avexadinhas #2
Eu quero é férias R-O-L-A, FÉRIAS!!! Quero minha libido de volta! A rapariga saiu pra passear e não voltoi até agora! Acredita nisso? Deve ter encontrado uma pessoa bonita no caminho e se jogou nos braços... Ah, danada! Volte pra mim, mulher! Esqueci de tu não! Saudades pensar com a larissinha mas melhor ainda é sentir. Risos.
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
Avexadinhas #1
Nó na garganta, saudade do calor da rua. Saudade da visão turva das cores dos festivais. Demais. Sem óculos, meio fora de si, meio sensorial demais. Saudade de sentir que o tempo voa mais devagar. Saudades das grandes memórias doces.
Sopa de Letrinhas
Imagina por que as palavras são como elas são!
“Palavra” é o buquê de flores que sai da manga do mágico e
“Nuance” é uma dançarina de ballet e
“Branquelas” são duas rãs desengonçadas pulando e se chocando acidentalmente e
“Diversas” tem a textura de uma mordida em biscoitos coloridos em tons pastéis e
“Pinicar” tem um senso de humor delicioso e
“Sublime” é das cores de uma galáxia e
“Deliquescência” tá descendo num tobogã e
“Espetacular” são holofotes rodando iluminando pés sapateando e
“Épico” é um papel envelhecido e
“Pensar” tem a calmaria do céu cheio de nuvens à noite e
“Sentir” só pode ser vermelho e
“Machucado” tem sabor de chocolate e
“Adeus” é um monstrinho híbrido que às vezes é um belo herói.
E “Fim” é um convidado inesperado.
Sobre a escrita
Tem dias que acordo me perguntando quantos textos intitulados “autobiografia” ainda irei escrever em minha vida.
Ora, se, já não sou o mesmo… ser humano! desde que acordei,
Quem dirá permanecer a mesma desde a última vez que escrevi uma autobiografia.
Sequer lembro quando foi a última autobiografia escrita.
O que mudou? Nem sei.
Talvez eu busque esses textos para revisitar essas versões antigas mas não desimportantes de mim.
Recentemente descobri que também sou feita de silêncios.
Taí, uma frase bonita…
Feita de silêncios.
Tão bonita quanto clamar para si o título de artista do impossível.
Tão solenemente rebelde quanto se chamar antipoeta.
Ai, a antipoesia…!
Me acolheu tão bem…!
Logo a mim, que pertencia a lugar nenhum!
Logo essa escritora que se insurge contra a rima e a métrica,
Que se desagrada com as formas e
Que me rebelo contra o uso de palavras eruditas demais.
Eu quero mais é que todo mundo possa ler e sentir a antipoesia!
Tudo em mim grita antipoesia.
Tudo o que sou está na antipoesia.
Essa ovelha desgarrada que não gostava de se chamar de poetisa
Por justamente rejeitar todas as raízes tão sólidas da poesia,
Agora escrevo antipoesia.
E desafio quem sentir coragem o suficiente a me dizer que não o sou!
Toda minha arte grita rebeldia.
Se não gritasse, bem… Não seria minha.
Se não transbordasse o escárnio que é o viver,
O sarcasmo ao rir de si…
Quem mais seria?
Nessas entrelinhas de antipoesia da autobiografia, chego a me perguntar
O que é sucesso?
Serei um dia o que muitos consideram uma artista bem sucedida?
Pois bem… Já me considero bem sucedida.
Como não consideraria? Escrevo para mim, escrevo o que quero.
Desligo o cérebro pro coração poder falar…
Uma voz dentro de mim diz: “Mas em certo momento o artista deixa de criar para si.”
Vou conceder a essa voz uma concordância.
De fato, em algum momento deixo de escrever para mim.
Mas apenas o faço porque confio no poder da arte.
Na cura, na guiança…
Então se apenas uma pessoa fosse tocada por essas palavras metodjcamente escolhidas de brincadeira
Que podem trazer algum erro, ou não…
Já ficaria feliz.
Ora, por que escrever e colocar palavras erradas propositalmente?
Por birra! Risos.
Pra ver quem presta atenção?
Porque eu quero!
Porque a perfeição é entediante.
Nas curvas de cada letra da antipoesia encontro um pouco mais de minha história.
Trânsito
Nota da escritora: para uma leitura mais sensorial, que tal ler enquanto ouve essa música aqui? Planet Caravan - Black Sabbath foi a música que inspirou a escrita desse texto. Boa leitura!
Os tambores levam a atenção ao céu.
Estamos na mata, na beira do rio.
No alto do céu brilha uma Lua Cheia.
Me sinto em casa.
Subitamente parece que da comunhão da natureza ganhei o presente de falar todas as palavras que existem em todas as línguas
A capacidade de falar, entender e escrever todas elas,
Ainda que com erros propositais, só para me divertir um pouco.
Me aconchego no abraço do fogo com o vento da noite.
Não dá para não sentir o fogo, mesmo no frio e sinto um carinho das chamas cuspidas ao céu,
Como uma oração a todas as divindades que já existiram e ainda irão existir
Agradecendo e pedindo por proteção.
“Que nossos caminhos sejam sempre iluminados,
Que nossos ancestrais e guardiões sempre nos protejam.”
O fogo quase toca os céus, cuspido por aquele menino pirofagista,
Que gosta de usar uma saia de palha seca,
Para parecer um filho de orixá.
Uma vez me disseram que ele iria esquecer disso.
Ou desaprender, não me recordo bem de qual foi a palavra usada.
Achei que estava tudo bem, quando a gente cresce, a gente esquece de ser criança mesmo.
A gente desaprende.
No crescimento a gente desaprende e vira adulto pra reaprender o que toda criança já sabe.
É a vida.
E foi da vida que havia recebido aquela memória, a de cuspir fogo.
Foi da vida anterior que herdou esse saber, não era presente dessa.
Precisei acreditar em vidas passadas depois disso.
Vi esse momento acontecer já com a sensação de que seria uma boa memória.
Senti um arrepio, como se algum ancestral me tocasse o ombro e mais uma vez olhei pra Lua,
Respirei fundo.
Dentro de mim eu sabia que em algum lugar da mata,
Sob aquele mesmo céu e noite a Caipora e o Boitatá dançavam,
E como se sua dança me contasse todas as histórias de seus povos
Foram esses tambores e o som da noite na mata
Que me lembraram uma antiga história cuja moral dizia que até certa idade,
A criança ainda não sabe onde e quando está,
Por isso vive na encruzilhada entre vidas,
Lembrando o que havia lá e tentando se situar no que há do lado de cá,
Até o momento em que sente em suas entranhas a dor e a beleza do tempo e espaço que ocupa com o rotacionar da Terra.
Vai esquecendo,
esquecendo,
esquecendo…
De que?
Talvez seja coisa demais para lembrar.
Ou talvez você lembre… Quando o momento certo chegar,
Quando os tambores rufarem, quando a Lua estiver na posição correta…
Quando aquele menino cuspir fogo novamente.
Quem sabe?
Gênesis
Bang Bang!
My
baby shot me down...
Eu brincava de faroeste americano
porque o faroeste americano era o que eu conhecia
Clint
Eastwood, John Wayne, Billy the Kid!
Filme de viagem no tempo
só americano também
Filme de ficção científica, de zumbi, de alienígena… Tudo americano.
Tecnologia
americana, “espiritualidade” americana.
De volta para o
futuro americano.
Eu conhecia a “América”, os Estados Unidos muito mais do que conhecia minha própria terra.
Cresci ouvindo que no meu futuro eu ia morar fora, ia casar com um americano.
Mas não… Eu nasci para morar aqui.
Cresci
achando que o futuro estava em outro lugar, que o futuro era estar
fora.
Mas o futuro é o nordeste, o futuro é do nordeste.
O
futuro é de onde se morre mortemorridaoumortematada
Onde se
vivemorteevidaseverina
Onde se come tapioca no café da manhã,
Macaxeira, pirão de queijo, feijão-verde, arroz-da-terra e farofa d’água no almoço
E no jantar, mungunzá.
Nesse
nordeste, onde se chama por mainha e painho,
Onde Bumba meu boi
morre e ressuscita todo dia,
Filho da história do tempo que
corre em ciclos
Como a grande serpente que morde seu próprio
rabo
A chamo de Boitatá.
O futuro é aqui, na batida da
música que anuncia a chegada da cumadi fulôzinha
Onde o papa
figo anda livre e se você não se comportar... O véi do saco te
pega!
O futuro do nordeste é ter seus filhos de volta à
casa
Depois de tentar fugir da seca e
dosolderacharamulêraquenãodeixavocênempensar!
A
diáspora inversa.
O futuro do nordeste é resistência na ponta
do facão de Lunga
"Quem nasce em Bacurau é o que?"
"É
gente."
Gente como todos os nordestinos espalhados pelo
mundo afora.
O
mundo é o futuro dos nordestinos e o futuro do mundo é o
nordestefuturismo.
O mundo é do nordestefuturismo.
Carta a Nicanor Parra
Querido Parra,
Acabei de ler seu livro e estou aos prantos… Quem não? Existe uma música de uma cantora chamada Letrux com esse título. Acho que você gostaria dela. Acho que Letrux carrega na música a antipoesia que nos é tão cara. Sinto que devia escrever-te mais, porque há mais o que dizer… Há constelações inteiras por dizer! Ao mesmo tempo, as palavras escritas aqui já me parecem suficientes. Não o são. Acho que nunca haverá palavras suficientes a uma antipoeta.
Sim… Foi assim que passei a me chamar desde que descobri a antipoesia. Reclamei esse título para mim desde que ouvi falar na antipoesia e os motivos você descobrirá aqui. Será audácia minha? Se for, bem… Paciência. Sempre fui audaciosa e obstinada, mesmo! Um pouco insolente também. O eruditismo e a linguagem solene da poesia sempre me afastaram do título de poeta. É o pedestal… O maldito pedestal! Agora você me deu um lugar ao qual pertencer, obrigada por isso. Eu nunca senti que queria pertencer, menina moleca ovelha desgarrada que sou! Mas pertencer à antipoesia é bom. Ou é a antipoesia que nos pertence? A arte pertence ao artista ou o artista pertence à arte? Gostaria de lhe perguntar isso porque gosto de te imaginar como um artista que gosta da troca, da partilha. E, se não gostasse, talvez eu pudesse te fazer começar a gostar. Se você me desse a chance, é claro. Não é isso o que nós, antipoetas, artistas, queremos? Uma chance… Já tenho minha opinião nesse assunto, eu acho. Acho que artistas são meros humanos e a arte por si só tem em si toda a força do próprio tempo, afinal, ela estava aqui antes do artista e aqui permanecerá mesmo após a partida desse artista, assim como seu livro, que leio dois anos após a sua morte.
E por falar nisso, ler seus antipoemas diretamente de 2020 parece uma viagem no tempo: em 1954 você já tinha uns 40 anos? Eu, aqui, aos meus 27, encontrei em suas palavras um pouco das minhas, apesar de escrevermos de formas distintas. Me faz querer revolucionar também, sabe? Me afasta a ideia de glamour que transmite a ideia de uma revolução. Revolução em quê, afinal? Nas artes? Na escrita? E quem sou eu para fazê-lo? Ora, uma mera escritora conhecida por ninguém, lida por pouquíssimos (cada um extremamente importante, diga-se de passagem), que escreve há mais de 13 anos mas só saiu do armário enquanto escritora e artista agora? Pergunto: o que torna um artista um artista? Grande reconhecimento? Se assim for, provavelmente nunca serei uma artista. A primeira obra de arte? Se assim for, sou artista desde os cinco anos. Autoafirmação? Se assim for, apenas sou artista há meses. Foi nessa quarentena que resolvi “bater no peito” e me afirmar como tal. Ainda assim, se me considerarmos uma artista que ainda engatinha em sua trajetória, isso apagará todos os anos em que fiz arte escondida do mundo, no silêncio da madrugada, como se este fosse o maior segredo que carrego, não? Bem, deixo a você a resposta para isso. Só não me apareça com textos filosóficos porque não estou com paciência para as filosofias de outros.
De volta à revolução: sei que a desejo com todas as minhas forças. Só não sei o que desejo revolucionar… Ainda. Espero encontrar aliades nessa revolução. Pessoas que amem arte, que não apenas queiram consumir, mas cujo desejo de criar é tão forte… Mas tão forte! Que se não criar…! A cabeça explode! Não consegue dormir! Que queiram dividir. Esses sonhos malucos de escritor, você sabe…
Acho que a antipoesia sempre correu em minhas veias, mesmo sem que eu soubesse. Já devo ter escrito algo parecido com isso em alguma outra poesia perdida por aí. Ler suas palavras foi como voltar para casa. E que viagem! Estou não botando sangue pela boca e narinas mas, sim, estou com sangue nos olhos! Quero criar! Preciso criar!
Me encontrar com você no seu post mortem causou um embate, uma luta comigo mesma! Primeiro, quis me comparar à sua escrita, mas, como poderia fazê-lo? 38 anos antes de eu nascer você já escrevia! E, novamente, como poderia fazê-lo se vivemos em épocas tão diferentes, se somos pessoas diferentes, de idades e vivência totalmente diferentes! Lembrei disso no exato momento em que estava duvidando de meu valor como artista. Depois disso, senti que se enraizava em mim a seguinte crença: a antipoesia é imprevisível. Que essa característica incalculável (e, aqui, paro para rir ao usar uma palavra que remete à matemática de um antipoeta matemático) torne a antipoesia diversa. Que ela não se torne um grande templo com arquitetura impecável e que, na verdade, seja tão livre quanto um pássaro. Esse é meu mais novo sonho. Depois dessa cura, a leitura foi só sentir, como um constante arrepio. Incrível. Sonho, agora, também chegar aos 103 anos. Quem sabe eu não publique um “Só para maiores de cem anos” também?
Que um dia possamos nos encontrar,
Com carinho.
sábado, 9 de maio de 2020
Numa quinta Domingas aparece
quinta-feira, 30 de abril de 2020
Saudade em dias pandêmicos
Perdi as contas
E nem acho que contar vale a pena
Contar pra quê?
Todo dia os dias tem passado assim
Silenciosos, lentos, custosos
Solitários, ainda que tenha pessoas perto
Quando foi que recebi meu último abraço?
Vasculho minha mente buscando essa doce memória
Não consigo lembrar
Sinto falta.
Sinto falta de abraços e beijinhos e carinhos
E todos os "inhos" que antes eu rejeitava
Por valorizar meu espaço pessoal
Não quero mais mandar mensagensoutextosouvídeosoucartasoupomboscorreioousinaisdefogo! dizendo que sinto falta
Dizendo o quanto se é importante e como minha vida mudou depois de conhecê-los
Quero o toque.
Quero o abraço.
Mesmo no calor, mesmo com suor.
Não aguento mais o amor virtual.
Quero o amor real.
E todos aqueles que amo perto de mim.
E se o preço que eu devo pagar por isso é ver o tempo correr novamente...
Que o seja.
O pagarei.
Anseio pelo resto da minha vida.
Não aguento mais o amor em tempos de COVID-19.
quinta-feira, 26 de março de 2020
Pandemia
Tem dias que a pessoa acorda assim.
segunda-feira, 23 de março de 2020
Distanciamento Social #1
segunda-feira, 9 de março de 2020
Quando nascem as rosas
Quase chorando, como um recém nascido saindo do ventre de sua mãe.
Mas não fui expelida, brotei.
De uma semente, criei raízes, um talo e folhas. E pétalas. Vermelhas.
Sou uma flor. Uma rosa vermelha.
Nasci com a dor de um corte.
Nasci quando devia ter morrido.
A dor da vida, né.
Consciência.
Fui colocada com tantas outras, de tantos tamanhos, formatos e cores diferentes dos meus na parte de trás do caminhão.
Fecha porta. Sombras.
Não vejo o Sol.
Não o vi por muito tempo desde que nasci, mas minha vida foi mais feliz por tê-lo visto.
Balançamos levemente, conforme o movimento do carro.
Não sei medir o tempo.
Para uma rosa, o tempo passa diferente.
Vivo minha vida inteira em uma semana, é o suficiente.
Abre porta, o Sol. Ah, o Sol! Que delícia!
Olho um pouco para cima, sentindo o calor do Sol e sou levada para as sombras mais uma vez.
Sou colocada numa camisa apertada e me jogam num depósito frio e sem luz para aguardar.
Lá, espero. Não há o que fazer além disso.
As rosas são pacientes.
Tem que esperar até que alguém goste de mim e me leve.
Que coisa, né.
Esperar pela conexão certeira. Vai acontecer um dia, eu sei que vai. Só espero que aconteça logo, estou ávida por este encontro.
Preciso que alguém me leve e, ao ver minhas vizinhas sendo levadas, a ansiedade vai tomando conta de mim.
Me sinto inútil.
E aguardo.
E me sinto incapaz.
E espero.
E caio em desespero.
Só quero me livrar dessa camisa.
Me aperto na ideia de ser grande demais para essas amarras.
Passo frio nas sombras e me deleito aos poucos momentos de Sol.
Descobri que gosto da mistura do calor do Sol com o frio de onde estou.
Não gosto das sombras, mas me acostumei aos raros momentos de luz.
Espiralo nos ciclos da vida, me afogo, afundo e caio.
Precisei aprender a cair.
Foi difícil, entre brigas de ego e dores de autodepreciação,
Ninguém me escolhe! Qual o meu problema?
Esperneio na camisa de força.
Até que enfim, uma mão me pega,
FUI ESCOLHIDA! Comemoro.
Me despeço das minhas desprezíveis vizinhas, vomito algumas palavras em xingamento.
Não havia necessidade mas eu fiz porque não aguentava mais.
Estava sufocada com tantas invadindo meu espaço.
As palavras que não dizemos tem que ir pra algum canto, né.
Ou então ficam à espreita, como um predador pra dar o bote. Só... Esperando o momento certo.
A mão me tira de minha prisão, depois, me despe, tirando de mim aquela camisa apertada e na qual eu já há muito não cabia.
Me espreguiço, alongando minhas pétalas.
Diante da liberdade, desabrocho.
Sou paparicada e me deixam bonita.
Me colocam com duas outras parecidas comigo em um buquê.
Estou feliz.
Sou feliz.
Agora tenho meu propósito.
Sou agora o que sempre sonhei ser: boa e bonita o suficiente para ser exposta como um bibelô.
É para isso que flores servem, né? Demonstrar afeto, um pedido de desculpas, uma despedida...
Dizem que o ato de enviar flores vem da Grécia Antiga e eu não duvido. Os caras criaram tudo!
Sou recebida por um belo sorriso e fico satisfeita em saber que meu propósito inclui fazer outros felizes em meu caminho.
Sou colocada num vaso com água.
Água é bom. É refrescante.
Passo minhas horas feliz por ter encontrado meu propósito igual a tantas outras antes de mim.
Ao longo desse caminho de satisfação, vivo perdendo partes de mim ao longo dos dias, murchando até o Destino Final, porém perfeitamente satisfeita com minha vida tão meio tanto faz, tão meio medíocre.
Invejo aquelas cujos destinos foram diferentes dos meu, mas digo a todos e, principalmente, a mim mesma, que eu mereço estar onde estou. Admitir que um lampejo de inveja passou por mim é como perder um jogo. Não sei admitir quando erro, muito menos consigo admitir que minha autoestima não é lá essas coisas. É uma humilhação pela qual não irei passar! Me recuso!
Rio desvairadamente!
E perco partes de mim.
Murcho.
Até não haver mais nada.
Nem Sol,
Nem luz,
Nem vida.
Nasci em dor e morro na paz de ser murcha e incompleta.
A vida de uma rosa tem sabor de maçã.
quarta-feira, 4 de março de 2020
Todas as queimadas me são importantes.
Às chamas da vela amarela dedicada aos meus ancestrais e guardiões,
Queimo as palavras da última lembrança que eu tinha daquele que não merece ser lembrado.
Palavras essas que não passaram de uma mentira, das quais nem me lembro mais, assim como já não lembro mais de seu rosto,
Um esquema arquitetado com qual objetivo nunca saberei.
E nem quero.
O que quero é que os pesadelos parem.
Que a repulsa passe.
Que eu não sinta a bile na minha boca só de imaginá-lo mais uma vez na minha frente.
Entreguei ao fogo porque ele sabe o que fazer com isso melhor que eu.
Transmuta, liberta.
A mão quase queimou, mas não passou de um beijo do meu protetor.
Quentinho. Gostoso. Acolhedor.
As pessoas mentem, mas o fogo, nunca.
Confie apenas na voz do fogo.
Pena que foi rápido demais.
Eu gostaria que tivesse durado mais tempo,
Que eu pudesse observar melhor.
Mas foi tão rápido quanto tudo aconteceu,
No tempo que tinha que acontecer.
Queimou bonito, o fogo.
A vida é feita de despedidas,
Precisamos abrir espaço pro novo.
O peso que saiu de minhas costas...!
Ah, como nos apegamos às demonstrações de afeto que nos foram feitas,
Ainda que mentirosas...!
Muito obrigada, sinto muito e boa sorte.
Nada nem ninguém que não me quer bem conseguirá chegar perto de mim.
Nada nem ninguém irá me colocar para baixo.
Que queime tudo o que não me cabe,
Que o fogo leve tudo o que não me pertence.
O quarto agora cheia a queimado.
Conforto.
Que cinzas busquem brasas.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Risoto de Camarão
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
Sem data para ficar
Foi assim que percebeu que odiava saber o seu futuro.
- dez, 2019.